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REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

Reforma-política-BAIXA

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Para além das fronteiras do patriarcado 183<br />

pansão da agenda política feminista para além da redistribuição de classe, de<br />

outro, a luta pelo reconhecimento acabou por desviar mais do que aprofundar<br />

o imaginário socialista. O efeito foi, portanto, o de “subordinação das lutas<br />

sociais por lutas culturais” (Fraser, 2013, p. 4).<br />

Fraser nos ajuda a compreender como o projeto político do neoliberalismo<br />

criou desafios para a luta feminista e como a agenda da representação política<br />

das mulheres, ao carregar teor transformador, deve ser articulada com as demandas<br />

materiais e simbólicas – que reconhecem que classe, gênero e raça são<br />

traços fundamentais para a cidadania das mulheres brasileiras.<br />

Os desafios da reforma política e da despatriarcalização<br />

do Estado<br />

Até aqui, exploramos as concepções feministas em relação ao Estado e a luta política<br />

das mulheres para alterar seu caráter racista e patriarcal. Também examinamos<br />

a trajetória das mulheres organizadas no Brasil e sua relação com a esquerda<br />

e com as instituições estatais. Na presente seção, analisaremos desafios e potencialidades<br />

envolvidos no debate e nas propostas sobre a reforma política no Brasil.<br />

Antes de desenvolver reflexões sobre a maneira como uma reforma impactaria<br />

a representação política das mulheres, algumas considerações sobre<br />

a noção de representação podem ajudar a aprofundar a discussão. Iris Young<br />

(2006), uma importante filósofa política, traz a ideia de representação como<br />

uma dinâmica que oscila entre autorização e prestação de contas, isto é, um<br />

misto de ser autorizado a atuar nas instituições oficiais pelos cidadãos e de ser<br />

responsável diante dos representados.<br />

A inovação de Young está na refutação da noção de representação como<br />

substituição, isto é, os representantes como espelhos dos representados, agiriam<br />

a partir de um compartilhamento de identidades fixas e imutáveis. Como<br />

alternativa ao paradoxo da representação, a autora propõe a ideia de perspectiva<br />

social como “o ponto de vista que os membros de um grupo mantêm sobre<br />

os processos sociais em função das posições que neles ocupam” (p.164). Nesse<br />

sentido, “pessoas diferentemente posicionadas têm diferentes expe riências,<br />

histórias e compreensões sociais” derivadas do seu posicionamento na estrutura<br />

dos grupos sociais (p.162).

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