REFORMA POLÍTICA DEMOCRÁTICA
Reforma-política-BAIXA
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Desconcentrar o sistema, concentrando prerrogativas 139<br />
duas forças muito mais poderosas: a Presidência de um lado, e os financiadores<br />
das campanhas do outro. Continua a funcionar, mas sob um quadro de preocupante<br />
e crescente desmoralização pública. Habitando o plenário de uma<br />
casa que é tocada com rédea curta por mesa e colégio de líderes que se articulam<br />
com o Planalto, e comissões que são colonizadas pelos financiadores, só<br />
resta ao chão do plenário o varejão das emendas orçamentárias.<br />
Nesse quadro, porém, quem vai querer ser parlamentar? Campanhas caras,<br />
individuais, dependentes, portanto, de levantamento pessoal de fundos (a<br />
propósito, como controlar a movimentação de recursos feita permanentemente<br />
por 513 parlamentares que passam o mandato pensando na viabilização<br />
pessoal da próxima campanha?); renovação de uns 40% a cada legislatura;<br />
viagem a Brasília toda semana, num país com as dimensões do Brasil; exposição<br />
pequena (e tipicamente negativa) na mídia; pouco poder de fato. Quem<br />
vai querer fazer carreira parlamentar no Brasil? Afora um ou outro abnegado,<br />
talvez envaidecido pelo simples fato de estar lá, é mais plausível imaginar que<br />
a função será perseguida por alguém que ambicione imunidades, queira lavar<br />
dinheiro em campanhas ou, simplesmente, seja o testa-de-ferro de interesses<br />
poderosos. O resultado é que, já há alguns anos, a elite parlamentar no Brasil<br />
é composta por quadros que não têm o respeito da imprensa e da dita “opinião<br />
pública”. E isso é um problema – não necessariamente agudo, mas crônico.<br />
Não é por acaso que em toda eleição há deputados de considerável visibilidade<br />
anunciando desistência, invariavelmente se queixando de financiamento,<br />
e tratando de prosseguir a carreira em outras paragens. No devido tempo, o<br />
plenário vai ser colonizado pelo crime organizado. Se é que já não foi.<br />
É claro que não se trata de mudar o regime, reinventar o sistema. Isso<br />
não seria viável, sequer desejável. Mas, sim, cabe cultivarmos sensibilidade<br />
suficiente para ir apertando parafusos, antes que a casa caia – ou que o TSE<br />
reinvente o sistema todo, segundo critérios próprios. Acredito que um horizonte<br />
positivo seria uma paulatina e cautelosa desconcentração das prerrogativas<br />
presidenciais em favor do Congresso Nacional. Mas isso requererá,<br />
digamos, uma melhoria na coordenação partidária e na articulação interna dos<br />
sistemas de poder e representação no Congresso. A lista preordenada, com o<br />
protagonismo que ela confere a instâncias partidárias num momento decisivo<br />
de constituição da representação política, favoreceria esse objetivo.