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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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para estar tam contente, porque os exames duravam perto de<br />

quinze dias e só polo quarto devia pagar umhas cinquenta liras.<br />

Nom sei como figem para me examinar, porque esvaecim<br />

duas ou três vezes. Conseguim-no, mas começárom outra vez<br />

os problemas. de casa tardárom por volta de <strong>do</strong>us messes em<br />

enviar-me os <strong>do</strong>cumentos para a inscriçom na universidade, e<br />

como suspendim a inscriçom, suspenderam-me também as 70<br />

liras mensais da bolsa. salvou-me um porteiro, que me encontrou<br />

umha pensom de 70 liras, onde me fiárom; eu estava tam<br />

deprimi<strong>do</strong> que queria que a polícia me enviasse para a casa.<br />

assim é que recebia 70 liras e gastava-as por umha pensom<br />

misérrima. e passei o inverno sem um casaco, com um traje<br />

de meia estaçom, bom para Cagliari. Contra o mês de março<br />

de 1912 decaíra tanto que já nom dei fala<strong>do</strong> durante messes:<br />

ao falar trabucava as palavras. ainda por cima, morava justo à<br />

beira <strong>do</strong> <strong>do</strong>ra e a geada dava cabo de mim.<br />

Porque che escrevo to<strong>do</strong> isto? Para que te convenças de<br />

que já me encontrei outras vezes em condiçons terríveis, sem<br />

por isso desesperar. toda esta vida endureceu-me o caráter.<br />

Convencim-me de que mesmo quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> está ou parece<br />

perdi<strong>do</strong>, é preciso pôr-se novamente maos à obra tranquilamente,<br />

recomeçan<strong>do</strong> <strong>do</strong> início. Convencim-me de que é sempre<br />

preciso contar apenas com um mesmo e com as próprias<br />

forças; nom esperar nada de ninguém e nom procurar-se portanto<br />

desilusons. Que é necessário propor-se fazer somente o<br />

que se sabe e o que se pode fazer, e seguir o próprio caminho.<br />

a minha posiçom moral é ótima: haverá quem acredite que<br />

som um satanás e quem acredite que som quase um santo. eu<br />

nom quero ser um mártir nem um herói. simplesmente, creio<br />

ser um homem médio, que tem as suas convicçons profundas,<br />

e que nom as muda por nada no mun<strong>do</strong>. Poderia-che contar<br />

algumha ane<strong>do</strong>ta divertida. Nos primeiros messes que passei<br />

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