12.05.2013 Views

Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

é que nom se trata destes erros, mas sim de outra cousa que<br />

me foge e nom <strong>do</strong>u identifica<strong>do</strong> de maneira precisa. de resto,<br />

como bem podes imaginar, embora viva no cárcere, isola<strong>do</strong><br />

de qualquer fonte de comunicaçom, direta e indireta, alguns<br />

elementos de juízo e de reflexom chegam-me de todas formas.<br />

Chegam de maneira puntual, irregular, em longos intervalos<br />

—como nom pode deixar de acontecer— através <strong>do</strong>s discursos<br />

ingénuos daqueles que ouço falar, ou fago falar, e que de<br />

tanto em tanto levam o eco de outros ambientes, de outras<br />

vozes, de outros juízos, etc. Nom perdim ainda as qualidades<br />

de crítica «filológica»: sei discernir, distinguir, integrar, atenuar<br />

os exageros conscientes, etc. Po<strong>do</strong> cometer algum erro em<br />

geral —estou disposto a admiti-lo—, mas nom decisivo, capaz<br />

de dar umha direçom diferente ao curso <strong>do</strong>s meus pensamentos.<br />

de resto, nom vejo oportuno escrever-che outras cousas.<br />

Conheces a minha maneira de pensar: o escrito adquire um<br />

valor «moral» e prático que transcende muito o simples feito<br />

de estar escrito, que é contu<strong>do</strong> umha cousa puramente material...<br />

a conclusom, por dizê-lo de maneira resumida, é esta:<br />

fum condena<strong>do</strong> no dia 4 de junho de 1928 polo tribunal especial,<br />

isto é, por um determina<strong>do</strong> colégio de homens e poderiam<br />

ser indica<strong>do</strong>s os seus nomes, endereços e profissons na<br />

vida civil. Mas isto é um erro. Quem me condenou é um organismo<br />

muito mais vasto, <strong>do</strong> qual o tribunal especial nom foi<br />

senom o sinal externo e material, aquele que redigiu o <strong>do</strong>cumento<br />

legal da condena. devo dizer que entre as pessoas que<br />

me condenárom estivo também Iulca, de umha maneira insconsciente<br />

—estou firmemente convenci<strong>do</strong>—, junto a umha<br />

série de pessoas que estivo de umha maneira menos inconsciente.<br />

esta é, polo menos, a minha convicçom, já firmemente<br />

determinada, da<strong>do</strong> que é a única que explica umha série de<br />

feitos sucessivos e congruentes entre eles. Nom sei se figem<br />

393

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!