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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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calhar, viver com as 10 liras por dia que nos adjudicou o governo;<br />

somos já trinta desterra<strong>do</strong>s e ainda há de chegar algum<br />

mais.<br />

as nossas obrigas som variadas e complexas; a mais salientável<br />

é a de nom sairmos da casa antes <strong>do</strong> amanhecer e<br />

a de voltar para a casa às 8 da tarde; nom podemos ir além<br />

de determina<strong>do</strong>s limites que, em linhas gerais estám representa<strong>do</strong>s<br />

polo perímetro habita<strong>do</strong>. No entanto, conseguimos<br />

licenças que nos permitem passear por to<strong>do</strong> o território da<br />

ilha, com a obriga de voltar dentro <strong>do</strong>s limites às 5 da tarde.<br />

a populaçom em conjunto é de perto de 1.600 habitantes,<br />

<strong>do</strong>s quais 600 som força<strong>do</strong>s, isto é, delinquentes comuns que<br />

já cumprírom outras condenas. a populaçom indígena compom-se<br />

de sicilianos, mui amáveis e hospitaleiros; podemos<br />

relacionar-nos com a populaçom. os presos estám submeti<strong>do</strong>s<br />

a um regime mui restritivo; a grande maioria, da<strong>do</strong> o pequeno<br />

tamanho da ilha, nom pode ter nengum ocupaçom e tem que<br />

viver coas 4 liras diárias que lhes adjudica o governo. Podes<br />

imaginar o que acontece: a mazzetta (é o termo que se utiliza<br />

para indicar a pensom <strong>do</strong> governo) gasta-se principalmente<br />

em vinho; as comidas reduzem-se a um pouco de massa com<br />

ervas e a um pouco de pam; a desnutriçom leva ao alcoolismo<br />

mais deprava<strong>do</strong> num prazo mui breve. estes presos som<br />

encerra<strong>do</strong>s em celas especiais às cinco da tarde e estám juntos<br />

toda a noite (entre cinco da tarde e sete da manhá), fecha<strong>do</strong>s<br />

desde fora: jogam às cartas, em ocasions perdem a mazzetta<br />

de bastantes dias e desta maneira vêem-se prisioneiros num<br />

círculo infernal que dura até o infinito. deste ponto de vista,<br />

é um autêntico peca<strong>do</strong> que se nos proiba ter contatos com<br />

seres reduzi<strong>do</strong>s a umha vida tam excecional: acho poderiam<br />

fazer-se observaçons de tipo psicológico e de folclore com um<br />

caráter único. to<strong>do</strong> aquilo quanto de elementar sobrevive no<br />

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