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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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<strong>do</strong> a Ustica polo menos um par de cartas tuas, que tinham de<br />

ter encaminha<strong>do</strong> para Milám; porém, na correspondência que<br />

recebim aqui, de volta à ilha, ainda nom encontrei nada teu.<br />

Queridíssima, se se tratasse de algumha cousa que depende<br />

de ti e nom já (como é possível e provável) de algum obstáculo<br />

administrativo, deves evitar inquietar-me assim durante<br />

tanto tempo: isola<strong>do</strong> como estou, qualquer novidade e qualquer<br />

interrupçom da normalidade levam-me a pensamentos<br />

atormenta<strong>do</strong>s e penosos. as tuas últimas cartas, recebidas em<br />

Ustica, eram verdadeiramente um pouco preocupantes; que<br />

som essas preocupaçons sobre a minha saúde, que chegam até<br />

fazer-che estar mal fisicamente? asseguro-che que sempre estivem<br />

bastante bem e que tenho em mim energias físicas que<br />

nom podem esgotar-se facilmente, apesar das aparências de<br />

fragilidade. achas que nom quer dizer nada que tivesse leva<strong>do</strong><br />

sempre umha vida extremamente sóbria e rigorosa? reparo<br />

agora no que significa nom ter ti<strong>do</strong> nunca <strong>do</strong>enças de gravidade<br />

e nom ter inferi<strong>do</strong> ao organismo nengumha ferida fatal;<br />

po<strong>do</strong> cansar-me terrivelmente, é verdade; mas um pouco de<br />

repouso e de alimento conseguem que recupere rapidamente<br />

a normalidade. em resumo, nom sei o que escrever para conseguir<br />

que estejas calma e sá: tenho que recorrer às ameaças?<br />

Poderia nom escrever-che mais, sabes?, e fazer com que sintas<br />

também tu o que significa a completa falta de notícias.<br />

Imagino-te séria e sombria, sem um sorriso, nem sequer<br />

fugidio. Quereria fazer de algumha maneira que te alegrasses<br />

outra vez. Contarei-che pequenas histórias; o que achas? Por<br />

exemplo, quero contar-che algo, a mo<strong>do</strong> de entremês na descriçom<br />

da minha viagem neste mun<strong>do</strong> tam grande e terrível,<br />

sobre mim mesmo e a minha fama, mui engraça<strong>do</strong>. eu nom<br />

som conheci<strong>do</strong> fora de um círculo mui restrito; por isso, o<br />

meu nome é deturpa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s jeitos mais inverosímis: Gramas-<br />

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