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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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que, mesmo se nom dirigida a mim, era implícita, e porque<br />

enten<strong>do</strong> que responde a umha necessidade geral para quem<br />

está preso: «como fazer para nom perder o tempo no cárcere<br />

e para estudar algo de algumha maneira?» antes de mais, vejo<br />

necessário renunciar ao hábito mental «escolástico», e nom<br />

meter-se na cabeça seguir cursos regulares e profun<strong>do</strong>s: isso<br />

é impossível, mesmo para quem se encontra nas melhores<br />

condiçons. entre os estu<strong>do</strong>s mais proveitosos está, é claro, o<br />

das línguas modernas: chega com umha gramática, que pode<br />

encontrar-se também, por pouquíssimo dinheiro, nas bancas<br />

<strong>do</strong>s livros usa<strong>do</strong>s, e algum livro (também este usa<strong>do</strong>, talvez)<br />

da língua escolhida para o estu<strong>do</strong>. Nom se pode apreender<br />

a pronúncia oral, é verdade, mas saberá-se ler, e isto é já um<br />

resulta<strong>do</strong> considerável. aliás: muitos presos desvalorizam a<br />

biblioteca <strong>do</strong> cárcere. Certamente, as bibliotecas carcerárias,<br />

em geral, nom tenhem umha ordem: os livros fôrom reuni<strong>do</strong>s<br />

ao acaso, pola <strong>do</strong>açom de padroa<strong>do</strong>s que recebem fun<strong>do</strong>s<br />

de armazém das editoras, ou por livros deixa<strong>do</strong>s por excarcera<strong>do</strong>s.<br />

abundam os livros devotos e de romances de terceira<br />

categoria. todavia, acho que um preso político deve também<br />

buscar o fogo na ameixoeira. tu<strong>do</strong> consiste em dar um fim às<br />

próprias leituras e em saber apanhar apontamentos (se se tiver<br />

licença para escrever). Ponho <strong>do</strong>us exemplos: em Milám lim<br />

umha certa quantidade de livros de to<strong>do</strong>s os géneros, nomeadamente<br />

romances populares, até que o diretor me permitiu<br />

ir eu mesmo à biblioteca escolher entre os livros ainda nom<br />

disponíveis para a leitura ou entre aqueles que devi<strong>do</strong> a um<br />

particular teor político ou moral, nom davam para ler a to<strong>do</strong>s.<br />

Pois bem, encontrei que também sue, Montépin, Ponson du<br />

terrail, etc. bastavam se forem li<strong>do</strong>s deste ponto de vista: «por<br />

quê esta literatura é sempre a mais lida e a mais impressa? que<br />

necessidades satisfai? a que aspiraçons responde? que senti-<br />

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