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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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da raposa e <strong>do</strong> poldrinho. sei que a raposa sabe quan<strong>do</strong> vai<br />

nascer um poldrinho, e anda à espreita. e a égua sabe que a<br />

raposa anda à espreita. É por isso que, assim que o poldrinho<br />

nasce, a mae se pom a correr em círculo em volta <strong>do</strong> pequeno,<br />

que nom pode mover-se nem escapar no caso que algum animal<br />

selvagem o ataque. Contu<strong>do</strong>, algumhas vezes som vistos<br />

polos caminhos da sardenha cavalos sem cauda e sem orelhas.<br />

Por quê? Porque, assim que nascêrom, a raposa, de umha maneira<br />

ou de outra, conseguiu achegar-se e comeu-lhes a cauda<br />

e as orelhas, ainda mui tenros. Quan<strong>do</strong> era criança um cavalo<br />

destes trabalhava para um velho vende<strong>do</strong>r de azeite para candeias<br />

e de petróleo, o qual ia de aldeia em aldeia venden<strong>do</strong> a<br />

sua merca<strong>do</strong>ria (nom havia entom cooperativas nem outras<br />

maneiras de distribuir as merca<strong>do</strong>rias), mas aos <strong>do</strong>mingos,<br />

para que os fedelhos nom se mofassem, o vende<strong>do</strong>r punha ao<br />

seu cavalo cauda e orelhas postiças. —2° agora vou-che contar<br />

como vim a raposa pola primeira vez. Com meus irmaos<br />

fum um dia a um campo de umha tia, onde havia <strong>do</strong>us enormes<br />

carvalhos e algumhas árvores frutais; tínhamos que fazer<br />

a colheita das landras para dar de comer a um bacorinho. o<br />

campo nom estava longe da aldeia, mas na re<strong>do</strong>nda to<strong>do</strong> estava<br />

deserto e havia que descer até o vale. Mal entrámos no<br />

campo, eis que baixo umha árvore estava tranquilamente sentada<br />

umha raposa grande, com a linda cauda erguida como<br />

umha bandeira. Nom se assustou em absoluto; reganhou os<br />

dentes, mas parecia que risse, nom que ameaçasse. Nós crianças<br />

encolerizavamo-nos com a raposa, porque nom nos tinha<br />

me<strong>do</strong>; nom tinha nengum me<strong>do</strong>. Guindamos-lhe pedras,<br />

mas ela pouco se apartava e recomeçava a olhar-nos burlona<br />

e sorrateira. Punhamo-nos bastons às costas e fazíamos to<strong>do</strong>s<br />

juntos: bum!, como se fossem tiros de espingarda, mas<br />

a raposa reganhava os dentes sem incomodar-se demasia<strong>do</strong>.<br />

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