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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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Umha única cousa deves responder-me: estás disposta a tornar-te<br />

intérprete ante Giulia sobre o que che escrevim, ou tê-lo<br />

por impossível? Um sim ou um nom, eis o que desejo saber.<br />

Qualquer cousa parecida com umha discussom desgostariame<br />

imensamente. trata-se de umha operaçom cirúrgica, em<br />

certo senti<strong>do</strong> de umha decapitaçom, e justifica-se somente se<br />

for realizada com um corte neto, decidi<strong>do</strong>; de outra maneira<br />

converteria-se numha tortura chinesa. teria deseja<strong>do</strong> que me<br />

tivesses respondi<strong>do</strong> depressa; nom o pudeche fazer. Paciência.<br />

Porém, nom deves revolver agora o punhal na ferida.<br />

Permite que che diga umha verdade <strong>do</strong>lorosa. amiúde,<br />

quem quer consolar, ser afetuoso etc., é na realidade o mais<br />

feroz <strong>do</strong>s tortura<strong>do</strong>res. também no «afeto» é preciso ser sobretu<strong>do</strong><br />

«inteligente». em breve estaremos no 1933; começou<br />

já umha nova fase da minha vida carcerária. Pois bem, é preciso<br />

que che fale mesmo com franqueza. Visto que nem sequer<br />

ponho em dúvida o teu afeto por mim (é esta umha premissa<br />

sempre presente no meu espírito, mesmo quan<strong>do</strong> a menciono<br />

e acho inútil fazê-lo, como o seria estar a lembrar sempre que<br />

minha mae ou Giulia me querem) e já penso que a minha<br />

carta de 14 de nov. vai ficar, para já, sem consequências decisivas,<br />

quero-che dizer que também a tua atitude deve mudar<br />

nalguns pontos. acredita que nom quero fazer recriminaçons<br />

(que seriam estúpidas), mas quero fazer que lembres um episódio<br />

de há alguns anos, que se calhar esqueceche e sobre o<br />

qual penso que nom refletiche avon<strong>do</strong> como para tirar dele<br />

umha norma de conduta. Lembras que no 1928, quan<strong>do</strong> estava<br />

no cárcere judiciário de Milám, recebim umha carta de um<br />

«amigo» que estava no estrangeiro? Lembras que che falei dessa<br />

carta tam «estranha» e que che contei que o juiz instrutor,<br />

assim que ma entregou, acrescentou de maneira literal: «honorável<br />

Gramsci, tem amigos que desejam certamente que fique<br />

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