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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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18 de julho de 1932<br />

(Carta 114)<br />

Queridíssima Iulca,<br />

tivem duas cartas tuas, de 24 de junho e de 3 de julho. Nom<br />

estivem mui bem nos últimos tempos (de um ano a esta parte,<br />

isto acontece um pouco mais amiúde <strong>do</strong> que antes) e nom<br />

tenho a disposiçom para escrever-che com um pouco mais de<br />

vagar. No entanto, quero dizer-che que as tuas últimas cartas<br />

me dérom um pouco de felicidade: até opino que te figeche<br />

mais forte e mais segura de ti mesma. estou contente também<br />

porque já nom estás obcecada com o tratamento psicanalítico,<br />

que até onde po<strong>do</strong> opinar, em base aos meus conhecimentos,<br />

me parece demasia<strong>do</strong> imbuí<strong>do</strong> de charlatanaria e capaz, sempre<br />

que o médico assistente consiga vencer em pouco tempo a<br />

resistência <strong>do</strong> sujeito e que com a sua autoridade o arranque à<br />

depressom, de agravar as <strong>do</strong>enças nervosas em lugar de curálas,<br />

sugerin<strong>do</strong> ao <strong>do</strong>ente motivos de novas inquietudes e de<br />

re<strong>do</strong>bra<strong>do</strong> marasmo psíquico. Querida, penso que a tua mae,<br />

ao expressar que devias «chegar a ser um elefante», demonstrou<br />

ser o médico mais seguro e mais fiável. Fai-me feliz o que<br />

me escreves sobre Giuliano e das suas perguntas sobre o meu<br />

conto, mas isso fai-me pensar ainda nisso que che escrevim<br />

noutra ocasiom, que para as crianças devo ser um pai misterioso,<br />

que sempre lhes está longe e que nunca se ocupa com<br />

elas, a diferença <strong>do</strong> que fam os outros. apesar de tu<strong>do</strong>, penso<br />

que isso deve lançar um certo véu de sombra no seu ánimo,<br />

nomeadamente no de Giuliano, se ele for algo tími<strong>do</strong> e fecha<strong>do</strong><br />

como tu o descreves. abraço-te com tenrura.<br />

antonio<br />

•<br />

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