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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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tes dezanove dias «morei» nos seguintes cárceres: Palermo,<br />

Nápoles, Caianello, Isernia, sulmona, Castellamare adriatico,<br />

ancona, Bolónia; na noite <strong>do</strong> dia 7 cheguei a Milám. em<br />

Cajanello e em Castellamare nom há cárceres; «<strong>do</strong>rmim» nas<br />

cámaras de segurança <strong>do</strong> Quartel <strong>do</strong>s Carabineiros; fôrom as<br />

duas noites mais cativas que tenho passa<strong>do</strong>, talvez em toda a<br />

minha vida. em Castellamare apanhei um estupen<strong>do</strong> resfria<strong>do</strong>,<br />

que neste momento já quase que me passou.<br />

Nas travessias Ustica-Palermo e Palermo-Nápoles o esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> mar era péssimo; porém, nom sofrim. a travessia<br />

Palermo-Nápoles merece ser descrita: farei-no noutra carta,<br />

quan<strong>do</strong> tiver repensa<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os detalhes e refresca<strong>do</strong> a<br />

memória. a viagem foi em geral para mim como um filme<br />

longuíssimo: conhecim umha infinidade de tipos, <strong>do</strong>s mais<br />

vulgares e nojentos, aos mais curiosos e ricos em caraterísticas<br />

de interesse. entendim o difícil que é compreender a<br />

partir de sinais exteriores a verdadeira natureza das pessoas;<br />

por exemplo, em ancona, um velhinho bonacheirom,<br />

com face de honesto homem de províncias, perguntou-me<br />

se lhe cedia a minha sopa, que eu decidira nom comer; figem-no<br />

com prazer, impressiona<strong>do</strong> pola serenidade <strong>do</strong>s seus<br />

olhos e pola modéstia desenvolta <strong>do</strong> seu proceder; avisárom-me<br />

mais tarde de que era um cabrom nojento: violara<br />

a filha.<br />

Quero-vos dar umha visom de conjunto da viagem. Imaginai<br />

que de Palermo a Milám se arrasta um imenso verme,<br />

que se contrai e se descontrai, que se articula e se desarticula<br />

sem parar, deixan<strong>do</strong> em cada cárcere umha parte <strong>do</strong>s seus<br />

aneis, substituin<strong>do</strong>-os por uns novos, agitan<strong>do</strong>-se à direita<br />

e à esquerda das formaçons e incorporan<strong>do</strong> as extraçons no<br />

regresso. este verme tem covis em cada cárcere, que se chamam<br />

«tránsitos», onde ele fica entre <strong>do</strong>us e oito dias, e que<br />

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