12.05.2013 Views

Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

cidem com momentos de depressom nervosa. Gostei muito<br />

<strong>do</strong> que escreves: que, ao reler novamente as minhas cartas <strong>do</strong><br />

28 e <strong>do</strong> 29, reparache na identidade <strong>do</strong>s nossos pensamentos.<br />

Gostaria de saber no entanto em que circunstáncias e especialmente<br />

em volta de que que objeto reparache nessa identidade.<br />

Na nossa correspondência falta precisamente umha<br />

«correspondência» efetiva e concreta: nunca conseguimos<br />

estabelecer um «diálogo»: as nossas cartas som umha série de<br />

«monólogos» que nem sempre conseguem pôr-se de acor<strong>do</strong>,<br />

nem sequer nas linhas gerais; se a isto se acrescenta o elemento<br />

tempo, que fai esquecer o que foi escrito anteriormente, a<br />

impressom de puro «monólogo» reforça-se. Nom achas? Lembro<br />

um conto popular escandinavo: três gigantes vivem na escandinávia,<br />

longe uns <strong>do</strong>s outros como as grandes montanhas.<br />

após milheiros de anos de silêncio, o primeiro gigante grita<br />

para os outros <strong>do</strong>us: «sinto bruar um rebanho de vacas!».<br />

após trezentos anos o segun<strong>do</strong> gigante intervém: «também<br />

eu ouvim o brua<strong>do</strong>!» e após outros 300 anos o terceiro gigante<br />

ordena: «se continuardes a fazer tanto barulho, vou-me!»<br />

Bom! Nom tenho mesmo vontade de escrever, há um<br />

vento de siroco que lhe dá a um a impressom de estar bêbe<strong>do</strong>.<br />

Querida, abraço-te com tenrura, junto aos nossos filhos.<br />

antonio<br />

•<br />

217

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!