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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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diretor de dramas populares, reflexo teatral <strong>do</strong>s romances de<br />

folhetim, ao lembrar quanto me divertira as vezes que fora vêlo,<br />

porque a representaçom era dupla: a emoçom, as paixons<br />

desencadeadas, a intervençom <strong>do</strong> público popular nom era,<br />

decerto, a representaçom menos interessante.<br />

Que che parece isto to<strong>do</strong>? No fun<strong>do</strong>, para quem observe<br />

com atençom, entre estes quatro temas existe umha homogeneidade:<br />

a alma criativa <strong>do</strong> povo, nas suas diferentes fases e<br />

graus de desenvolvimento, está na sua base em igual medida.<br />

escreve-me as tuas impressons; confio muito no teu bom senso<br />

e no fundamento <strong>do</strong>s teus juízos. aborrecim-te?.<br />

sabes?, para mim escrever substitui as conversas: quan<strong>do</strong><br />

che escrevo, acredito que estou a falar-te de verdade; só que<br />

tu<strong>do</strong> se reduz a um monólogo, porque as tuas cartas, ou nom<br />

me chegam, ou nom correspondem com a conversa iniciada.<br />

Por isso, escreve-me cartas, com mais vagar, além <strong>do</strong>s postais;<br />

eu escreverei-che umha carta cada sába<strong>do</strong> (po<strong>do</strong> escrever<br />

duas por semana) e será um desabafo. Nom retomo a narraçom<br />

das minhas aventuras e impressons da viagem, nom sei<br />

se che interessam; é certo que tenhem um valor pessoal para<br />

mim, em quanto que estám ligadas a determina<strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s de<br />

ánimo e também a determina<strong>do</strong>s sofrimentos; para fazê-las<br />

interessantes para os demais seria necessário, se calhar, expôlas<br />

em forma literária; mas eu tenho que escrever de golpe, no<br />

pouco tempo em que me deixam o tinteiro e a caneta.<br />

de resto, a plantinha <strong>do</strong> limoeiro continua a crescer?<br />

Nom me digeche nada mais. e a <strong>do</strong>na da minha casa, como<br />

está? ou é que morreu? sempre me esqueço de perguntarcho.<br />

a primeiros de janeiro recebim em Ustica umha carta<br />

<strong>do</strong> senhor Passarge, que estava desespera<strong>do</strong> e achava próxima<br />

a morte da mulher; depois nom soubem mais nada. Pobre<br />

senhora, temo que a cena <strong>do</strong> meu arresto contribuíra para<br />

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