12.05.2013 Views

Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

15 de dezembro de 1930<br />

222<br />

(Carta 69)<br />

Queridíssima mae,<br />

nom sei explicar-me o que se passa. Carlo nom me escreve<br />

desde há mais de três messes. a tua última carta recebim-na<br />

há cousa de uns <strong>do</strong>us messes. Há cousa de um mês e meio<br />

recebim umha carta de teresina, que respondim, sem ter mais<br />

contestaçom (escrevim para teresina há exatamente quatro<br />

semanas). Na verdade, nom sei explicar-me este silêncio sistemático:<br />

por quê nom interrompê-lo polo menos com algum<br />

postal ilustra<strong>do</strong>? tatiana escreve-me que recebeu umha carta<br />

de Carlo, que se excusa por nom escrever mais amiúde, aduzin<strong>do</strong><br />

o seu grande trabalho. Penso que é umha justificaçom<br />

insuficiente; pode explicar por que nom se escrevem cartas<br />

longas, mas nom se explica o silêncio absoluto; um postal ilustra<strong>do</strong><br />

pode escrever-se num instante. Pensei que Carlo pu<strong>do</strong><br />

ter sarilhos pola minha causa e nom quer ou nom sabe explicar-me<br />

o seu esta<strong>do</strong> de ánimo de desconcerto ou de dúvida.<br />

Pedirei-lhe por isso que me tranquilize ou que faga que me<br />

tranquilize, talvez fazen<strong>do</strong> que Mea escreva umha carta. desta<br />

maneira, gostaria de ser informa<strong>do</strong> um pouco mais amiúde<br />

sobre as tuas condiçons de saúde. recuperache as forças? se<br />

nom tiveres forças para escrever fai que alguém escreva postais<br />

e depois pom-lhes apenas a tua assinatura; para mim será<br />

suficiente. Queridíssima mamae, eis o quinto natal que passo<br />

em privaçom de liberdade e o quarto que passo no cárcere. Na<br />

verdade, a condiçom de desterra<strong>do</strong> com que passei o natal <strong>do</strong><br />

26 em Ustica era ainda umha espécie de paraíso de liberdade<br />

pessoal em comparaçom com a condiçom de preso. Mas nom<br />

creias que a minha serenidade diminuiu. envelhecim quatro<br />

anos, tenho muitos cabelos brancos, perdim os dentes, já nom

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!