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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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pi<strong>do</strong> como é, pu<strong>do</strong> ter avisa<strong>do</strong> que nom figessem mais envios,<br />

consideran<strong>do</strong>-me já livre). estava, pois, mui preocupa<strong>do</strong> e<br />

isso reforçou em mim um certo mo<strong>do</strong> de pensar, e fijo que<br />

me decidisse a escrever-che sobre o tema. Nom deves reparar<br />

na estranha aparência <strong>do</strong> que vou escrever-che e nom deves<br />

pensar que sou louco ou irreflexivo, ou irresponsável. Procurarei<br />

justificar o meu ponto de vista, na medida em que poda,<br />

mas deves partir <strong>do</strong> conceito que tenho mais outros temas à<br />

parte daqueles que vou expor, temas sobre os quais, por razons<br />

várias, nom po<strong>do</strong> falar por escrito e que se calhar nem<br />

che mencionaria em pessoa. É difícil começar, mas tentareino.<br />

aí vai: soubem há algum tempo que várias mulheres, que<br />

tinham o mari<strong>do</strong> no cárcere condena<strong>do</strong> a longas condenas,<br />

considerárom-se livres de qualquer vínculo moral e procurárom<br />

construir-se umha vida nova. o facto aconteceu (polo<br />

que se conta) por iniciativa unilateral. Pode julgar-se de diferentes<br />

maneiras, de diferentes pontos de vista. Pode censurar-se,<br />

pode explicar-se e mesmo justificar-se. Pessoalmente,<br />

depois de tê-lo pensa<strong>do</strong>, acabei por explicá-lo e também por<br />

justificá-lo. Mas se isso acontecesse por acor<strong>do</strong> bilateral, nom<br />

estaria ainda mais justifica<strong>do</strong>? Naturalmente, nom quero dizer<br />

que seja umha cousa simples, que se poda fazer sem <strong>do</strong>r e sem<br />

contrastes profundamente esgarra<strong>do</strong>res. Mas, mesmo nestas<br />

condiçons, pode ser feito desde que se esteja convenci<strong>do</strong> de<br />

que deve ser feito. No fun<strong>do</strong>, um sente arrepios quan<strong>do</strong> pensa<br />

que na índia as mulheres deviam morrer quan<strong>do</strong> morria o<br />

mari<strong>do</strong>, e nom se pensa que o facto se verifica, em formas<br />

menos imediatamente violentas, também na nossa cultura.<br />

Por que um ser vivo deve ficar liga<strong>do</strong> a um morto, ou quase?<br />

Parece-me que a geraçom com os princípios morais assentes<br />

antes da guerra pensa estes assuntos com umha velha mentalidade<br />

e que a nova geraçom, mais rápida nas suas decisons e<br />

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