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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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menos, como um que reivindica com insistência o direito de<br />

sofrer, de ser martiriza<strong>do</strong>, de nom ser defrauda<strong>do</strong> nem um<br />

minuto, nem um segun<strong>do</strong> num matiz da sua caneta. seria um<br />

novo Gandhi, que quer dar testemunho perante os superiores<br />

e os inferiores <strong>do</strong>s tormentos <strong>do</strong> povo indiano, um novo<br />

Jeremias ou elias, ou nom sei que outro profeta de Israel que<br />

ia para a praça comer cousas imundas, para se oferecer em<br />

holocausto ao deus da vingança, etc. etc. Nom sei como te figeche<br />

essa ideia, que é mui ingénua nas tuas relaçons pessoais<br />

e bastante injusta nas tuas relaçons para comigo, injusta e<br />

desconsiderada. dixem-che que som eminentemente prático;<br />

penso que nom entendes o que quero dizer com esta expressom,<br />

porque nom fás nengum esforço para te pôr na minha<br />

posiçom (provavelmente, devo aparecer pois ante ti como um<br />

comediante, ou que sei eu). a minha praticidade consiste nisto:<br />

em saber que se bato a cabeça contra a parede é a cabeça<br />

que rompe, e nom o muro. Mui elementar, como vês, e contu<strong>do</strong><br />

mui difícil de entender para quem nom deveu pensar<br />

nunca em poder bater a cabeça contra a parede, mas que sentiu<br />

dizer que chega com dizer: «abre-te sésamo!», para que o<br />

muro se abra. a tua atitude é inconscientemente cruel; tu vês<br />

alguém ata<strong>do</strong> (na verdade, nom o vês ata<strong>do</strong>, nom consigues<br />

ver as ataduras) que nom quer mover-se, porque nom pode<br />

mover-se. Pensas que nom se move porque nom quer (e nom<br />

vês que, por ter queri<strong>do</strong> mover-se, as ataduras mancárom-lhe<br />

rresponde ao delinquente, nom é apenas justa em si —, entanto que justa é, ao<br />

mesmo tempo, a sua vontade e é, em si, umha existência da sua liberdade, o seu<br />

direito; também é um direito, que reside no próprio delinquente, quer dizer, na<br />

sua vontade existente, na sua açom. Pois na sua açom, como na de qualquer ser<br />

racional, há algo de universal; por meio dela, afirma-se umha lei, que reconheceu<br />

para si e sob a qual, portanto, pode ser subsumi<strong>do</strong>, como sob o seu direito»<br />

(trad. da versom it. de F. Messineo, Laterza, Bari, 1954, s 100, p. 97).<br />

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