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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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Giuliano esbugalha os olhos diante desse couso misterioso,<br />

sem estar convenci<strong>do</strong> de que nom haja umha surpresa algo<br />

incerta: poderia saltar fora um gato raivoso ou talvez um lin<strong>do</strong><br />

pavom. Porque se nom lhe teriam dito que olhasse nessa<br />

direçom e que nom se movesse? tés razom quan<strong>do</strong> dis que se<br />

parece de maneira extraordinária com tua mae e nom só nos<br />

olhos, mas em toda a parte superior <strong>do</strong> rosto e da cabeça.<br />

sabes? escrevo-che de má vontade, porque nom tenho a<br />

certeza de que a carta che chegue antes da tua partida. e à<br />

parte, an<strong>do</strong> mais umha vez algo escangalha<strong>do</strong>. Choveu muito<br />

e a temperatura refrescou: isso fai-me estar mal. Venhem-me<br />

<strong>do</strong>res nos rins e neuralgias e o estômago rejeita a comida. Mas<br />

é umha cousa normal em mim e por isso nom me preocupa<br />

demasia<strong>do</strong>. de resto, como um quilo de uva por dia, quan<strong>do</strong><br />

a vendem; por isso nom po<strong>do</strong> morrer de fame: a uva como-a<br />

com prazer e é de umha qualidade ótima.<br />

Já lera um artigo <strong>do</strong> editor Formiggini relativo às más traduçons<br />

e às propostas feitas para obviar esta epidemia, chegan<strong>do</strong><br />

mesmo um editor a propor que se figesse responsáveis<br />

penais aos editores polos despropósitos publica<strong>do</strong>s; Formiggini<br />

respondia ameaçan<strong>do</strong> com fechar o negócio, porque até o<br />

mais escrupuloso editor nom pode evitar publicar disparates,<br />

e com muito humor eu já via um agente da polícia apresentan<strong>do</strong>-se<br />

e dizen<strong>do</strong>: «si levasse e venisse con mia in Questura.<br />

<strong>do</strong>vesse rispondere di oltraggio alla lingua italiana!» 73<br />

(os sicilianos falam um pouco assim e muitos guardas som<br />

73 Gramsci reproduz nesta frase o italiano regional da sicília. É umha piada<br />

difícil de traduzir e nem sequer fai muito senti<strong>do</strong> traduzi-la, mas para reproduzir<br />

o seu caráter cómico poderíamos dizer que umha versom aproximada é:<br />

«erguesse e vinhesse com eu à esquadra. tivesse que responder pela ultragem à<br />

lingua italiana». em definitivo, na sicília, o imperfeito <strong>do</strong> subjuntivo utiliza-se<br />

com valor imperativo.<br />

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