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Cartas do CárCere - Estaleiro Editora

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Naturalmente, pi<strong>do</strong>-che que nom lhe metas mais na cabeça<br />

a mamae que é capaz de fazer umha viagem a turi: só<br />

pensar na hipótese pom-me me<strong>do</strong>. acho que já abusa demasia<strong>do</strong><br />

da sua fibra excecional trabalhan<strong>do</strong> com a sua idade e<br />

com tanta teimosia: já deveria ter direito à reforma, de existir<br />

a reforma para as maes de família. acho que o primeiro contato<br />

com o cárcere causou em ti umha impressom mesmo péssima:<br />

imagina que impressom lhe poderia causar a ela. Nom<br />

se trata tanto de que a viagem seja longa, com to<strong>do</strong>s os seus<br />

incómo<strong>do</strong>s, para umha mulher anciá que nunca fijo mais de<br />

40 km. em trem, nem atravessou o mar (se calhar, a viagem<br />

em si poderia diverti-la): trata-se de umha viagem deste tipo,<br />

feita para visitar um filho no cárcere. Parece-me que cumpre<br />

evitá-la, custe o que custar.<br />

e afinal que lhe contache? espero que nom exagerasses<br />

em nengum senti<strong>do</strong>: polo demais, tu mesmo viste que nom<br />

estou nem abati<strong>do</strong>, nem desanima<strong>do</strong>, nem deprimi<strong>do</strong>. o meu<br />

esta<strong>do</strong> de ánimo é tal que, mesmo se me condenassem a morte,<br />

continuaria a estar tranquilo e mesmo na tarde anterior à<br />

execuçom talvez estudaria umha liçom de chinês. a tua carta,<br />

e aquilo que escreves sobre Nannaro, interessou-me muito,<br />

mas também me surpreende. Vós os <strong>do</strong>us tendes feito a guerra:<br />

nomeadamente Nannaro, que fijo a guerra em condiçons<br />

extraordinárias, como mineiro, baixo terra, sentin<strong>do</strong> através<br />

<strong>do</strong> diafragma que separava a sua galeria da galeria austríaca<br />

como trabalhava o inimigo apuran<strong>do</strong> o estouri<strong>do</strong> da mina<br />

para mandá-lo polo ar. opino que em condiçons semelhantes,<br />

prolongadas durante anos, com essas experiências psicológicas,<br />

o homem deveria ter alcança<strong>do</strong> o grau máximo de serenidade<br />

estoica e ter adquiri<strong>do</strong> a convicçom profunda de que<br />

tem em si próprio a fonte das próprias forças morais, que tu<strong>do</strong><br />

depende de si, da sua energia, da sua vontade, da férrea coe-<br />

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