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Tutela Jurisdicional - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...

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A teoria da total irresponsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, também conhecida<br />

como "feudal", "regalista" 9 ou "regaliana" 9 surgiu no Esta<strong>do</strong><br />

Romano, em que se sustentava a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o Esta<strong>do</strong><br />

estar em juízo para ser responsabiliza<strong>do</strong> por atos <strong>de</strong> seus agentes,<br />

eis que to<strong>do</strong> e qualquer ato <strong>do</strong>s "governantes" era reputa<strong>do</strong> como<br />

se fosse pratica<strong>do</strong> em prol <strong>do</strong> bem comum, o que incluía como<br />

beneficiários aquelas pessoas eventualmente lesadas. 10 O erro <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> que porventura causasse dano a um administra<strong>do</strong> era consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />

um erro <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s e por to<strong>do</strong>s <strong>de</strong>via ser suporta<strong>do</strong> 11 . Para<br />

justificar esta teoria também era utiliza<strong>do</strong> o argumento <strong>de</strong> que a<br />

irresponsabilida<strong>de</strong> estatal servia para evitar o empobrecimento <strong>do</strong><br />

Erário 12 .<br />

Posteriormente, após o surgimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Absoluto, outro<br />

foi o fundamento a respaldar a teoria que garantia ao Esta<strong>do</strong> ausência<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nizar, isto é, a sua total irresponsabilida<strong>de</strong> diante<br />

<strong>de</strong> atos <strong>de</strong> seus agentes que violassem direito <strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>s.<br />

O Esta<strong>do</strong> mantinha-se irresponsável civilmente ante a noção <strong>de</strong> que<br />

o po<strong>de</strong>r conferi<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong> advinha da divinda<strong>de</strong>, "uma vez que os<br />

Reis eram como tal consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s em razão <strong>de</strong> um direito divino.<br />

Daí porque, sen<strong>do</strong> infalíveis, não podiam causar danos a seus<br />

jurisdiciona<strong>do</strong>s" 13 .<br />

9<br />

CRETELLA JÚNIOR, José. O Esta<strong>do</strong> e a Obrigação <strong>de</strong> In<strong>de</strong>nizar. 2ª edição. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 2002, p.58.<br />

10<br />

SCAFF. Fernan<strong>do</strong> Facury. Responsabilida<strong>de</strong> Civil <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Intervencionista. 2ª edição. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Renovar, 2001, p. 126.<br />

11<br />

SAAD, Renal Miguel. O Ato Ilícito e a Responsabilida<strong>de</strong> Civil <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Lumen Juris, 1994, p. 49.<br />

12<br />

Como crítica a essa <strong>do</strong>utrina, importante trazer à baila as palavras <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Aguiar Dias, verbis: "Tem-se inocenta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>mais o Esta<strong>do</strong>, entre nós. Parece que é tempo <strong>de</strong> dizer que, se os governantes cumprissem melhor os seus <strong>de</strong>veres,<br />

não precisaria o Esta<strong>do</strong> se ver <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong> nos tribunais por argumentos que o colocam, ilogicamente, contra os<br />

interesses da comunida<strong>de</strong>. Aí estaria o melhor corretivo ao risco <strong>de</strong> empobrecer o erário, por via <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização".<br />

In Da Responsabilida<strong>de</strong> Civil. V. I. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 1944, p. 176.<br />

13<br />

SCAFF. Fernan<strong>do</strong> Facury. Ob. cit. p. 127. Maria Sylvia Zanella Di Pietro aduz que a tese da irresponsabilida<strong>de</strong><br />

estatal estava fincada na noção <strong>de</strong> soberania, eis que responsabilizar o Esta<strong>do</strong> por atos <strong>de</strong> seus agentes seria igualálo<br />

aos seus súditos, fato que poria em risco a mencionada soberania estatal. Confira-se: "A teoria da irresponsabilida<strong>de</strong><br />

foi a<strong>do</strong>tada na época <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s absolutos e repousava fundamentalmente na idéia <strong>de</strong> soberania: O Esta<strong>do</strong> dispõe<br />

<strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> incontestável perante o súdito; ele exerce a tutela <strong>do</strong> direito, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, por isso, agir contra ele; daí<br />

os princípios <strong>de</strong> que o rei não po<strong>de</strong> errar (the King can <strong>do</strong> no wrong, le roi ne peut mal faire) e o <strong>de</strong> que 'aquilo que<br />

agrada ao príncipe tem força <strong>de</strong> lei' (quod principi placuit habet legis vigorem). Qualquer responsabilida<strong>de</strong> atribuída<br />

ao Esta<strong>do</strong> significaria colocá-lo no mesmo nível que o súdito, em <strong>de</strong>srespeito a sua soberania". Direito Administrativo.<br />

13ª ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 525.<br />

Revista da EMERJ, v. 10, nº 37, 2007<br />

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