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Tutela Jurisdicional - Emerj - Tribunal de Justiça do Estado do Rio ...

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Parcialida<strong>de</strong> e justiça são idéias antitéticas, que não po<strong>de</strong>m<br />

coexistir.<br />

Discorren<strong>do</strong> ex professo a propósito da matéria, Manzini 3<br />

tece largas consi<strong>de</strong>rações em seu clássico Trattato, mostran<strong>do</strong>, com<br />

a erudição que lhe é peculiar, os riscos absolutos da parcialida<strong>de</strong>,<br />

em observações que valem <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> especial para os jura<strong>do</strong>s, mas<br />

que, <strong>de</strong> certa forma, atingem, se bem que em menor escala, os próprios<br />

juízes toga<strong>do</strong>s.<br />

A imparcialida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s jura<strong>do</strong>s, normalmente, será afetada em<br />

cida<strong>de</strong>s pequenas, quan<strong>do</strong> o réu (ou a vítima) seja pessoa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

projeção no meio social, geran<strong>do</strong> uma tendência para con<strong>de</strong>nar ou<br />

absolver, conforme o caso. Suponha-se a situação <strong>de</strong> um prefeito<br />

local, eleito com expressiva votação, muito aprecia<strong>do</strong> pela população<br />

e que venha a ser assassina<strong>do</strong> por um <strong>de</strong>safeto político ou por<br />

um marginal qualquer. É evi<strong>de</strong>nte que o evento criminoso atrairá<br />

gran<strong>de</strong> comoção na comunida<strong>de</strong> provinciana, através da mídia localizada<br />

(jornais, rádios etc...) que, previamente, estampará suas<br />

opiniões, "con<strong>de</strong>nan<strong>do</strong>" ou "absolven<strong>do</strong>" o autor <strong>do</strong> crime.<br />

Lembro-me <strong>de</strong> um homicídio ocorri<strong>do</strong> em Barra Mansa, cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> nosso Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, em que a vítima era pessoa<br />

bem quista e muito estimada na localida<strong>de</strong>. Diria, mesmo, que gozava<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> popularida<strong>de</strong> no meio social. Tive a ocasião <strong>de</strong>, atuan<strong>do</strong><br />

como Procura<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Justiça, junto à 3ª Câmara Criminal <strong>do</strong><br />

<strong>Tribunal</strong> <strong>de</strong> Justiça, opinar <strong>de</strong> forma favorável ao <strong>de</strong>saforamento, pois<br />

o réu, pelo que <strong>de</strong>preendi <strong>do</strong> exame <strong>do</strong>s autos, já estaria previamente<br />

"con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>" pelo júri local. No caso, acrescente-se ainda, havia<br />

a presença <strong>de</strong> outro motivo enseja<strong>do</strong>r da medida extrema, pois a<br />

integrida<strong>de</strong> física <strong>do</strong> acusa<strong>do</strong> encontrava-se seriamente ameaçada,<br />

fato que motivou sua transferência <strong>de</strong> prisão, para outra cida<strong>de</strong><br />

(Resen<strong>de</strong>), pois nesta a ca<strong>de</strong>ia apresentava instalações mais seguras<br />

3<br />

Manzini, Vincenzo. Trattato di Diritto Processuale Penale Italiano, volume secon<strong>do</strong>, p. 169 e sgs. Torino:<br />

Unione Tipografico - editora Torinese. 1931. Vale o registro <strong>de</strong> passagem <strong>do</strong> ensinamento <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> mestre italiano:<br />

"Il legittimo soppetti, a differenza <strong>de</strong>i comuni motivi di recusazione, non investe um <strong>de</strong>terminato giudice a cagione<br />

<strong>de</strong>lle sue qualità o rapporti personali, ma, come già diccemo, a causa <strong>de</strong>ll'ambiente in cui si trova. Si suppone ch'egli,<br />

pur essen<strong>do</strong> personalmente <strong>de</strong>ssinteressato nella causa, possa subire, con danno <strong>de</strong>lla sua serenità funzionale, influenze<br />

e pressioni ambientali (politiche, religiose, settarie, mafiose, camorristiche, plutocratiche, ecc.) che conviene evitare<br />

nell'interesse <strong>de</strong>la giustizia".<br />

58 Revista da EMERJ, v. 10, nº 37, 2007

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