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Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017 [materialcursoseconcursos.blogspot.com.br]

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<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><<strong>br</strong> />

“Arrolamento. Doação. Imposição <strong>de</strong> cláusula <strong>de</strong> impenhorabilida<strong>de</strong>. Retificação da doação, a<<strong>br</strong> />

fim <strong>de</strong> constar a justa causa da restrição a ser imposta. Necessida<strong>de</strong>. Não aceitação <strong>de</strong> cláusula<<strong>br</strong> />

genérica <strong>de</strong> justificação. Aplicação do art. 1.848 do Código <strong>Civil</strong>. Decisão mantida. Recurso<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sprovido” (TJSP, Agravo <strong>de</strong> Instrumento 990.10.001924­4, Acórdão 528084, Limeira, 5.ª<<strong>br</strong> />

Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Privado, Rel. Des. Silvério Ribeiro, j. 02.06.2010, DJESP 25.06.2010).<<strong>br</strong> />

“Doação. Cancelamento do gravame <strong>de</strong> inalienabilida<strong>de</strong> do imóvel. Art. 1.676, do Código<<strong>br</strong> />

<strong>Civil</strong> <strong>de</strong> 1916 que <strong>de</strong>ve ser interpretado <strong>com</strong> temperamento. Doação que se tornou <strong>de</strong>masiado<<strong>br</strong> />

onerosa. Art. 1.848, caput, do Código <strong>Civil</strong> <strong>de</strong> 2002 que exige justa causa para previsão <strong>de</strong>ssa<<strong>br</strong> />

cláusula. Aplicabilida<strong>de</strong> na hipótese. Inteligência do art. 2.042, do novo Código <strong>Civil</strong>.<<strong>br</strong> />

Restrição insubsistente. Recurso <strong>de</strong>sprovido” (TJSP, Apelação <strong>com</strong> Revisão 613.184.4/8,<<strong>br</strong> />

Acórdão 3499722, Presi<strong>de</strong>nte Venceslau, 1.ª Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Privado, Rel. Des. Luiz<<strong>br</strong> />

Antonio <strong>de</strong> Godoy, j. 03.03.2009, DJESP 08.05.2009).<<strong>br</strong> />

Com o <strong>de</strong>vido respeito, este autor pensa <strong>de</strong> forma contrária. Isso porque o art. 1.848 do CC é<<strong>br</strong> />

norma restritiva da autonomia privada e, <strong>com</strong>o tal, não admite interpretação extensiva ou analogia para<<strong>br</strong> />

outras hipóteses ou tipos. Em suma, o seu campo <strong>de</strong> incidência é apenas o testamento e não a doação.<<strong>br</strong> />

Em <strong>com</strong>plemento, <strong>com</strong>o sustenta Marcelo Truzzi Otero, a exigência <strong>de</strong> justa causa para a doação<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong> gerar disputas familiares infindáveis: “partindo <strong>de</strong>ssa premissa, a exigência <strong>de</strong> justa causa para as<<strong>br</strong> />

doações, mesmo aquelas feitas em antecipação da legítima, afronta ao princípio da proteção da família,<<strong>br</strong> />

posto, não raro, representar um relevante fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarmonia e <strong>de</strong>sunião familiar”. 92 De fato, se a<<strong>br</strong> />

Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 protege especialmente a família, em seu art. 226, não se po<strong>de</strong>m incentivar<<strong>br</strong> />

as práticas jurídicas que motivam ou intensificam os conflitos familiares.<<strong>br</strong> />

Vale dizer que o Colégio Notarial do Brasil aprovou enunciado em seu XIX Congresso Brasileiro,<<strong>br</strong> />

realizado em 2014, prescrevendo que, “nas escrituras públicas <strong>de</strong> doação, não é necessário justificar a<<strong>br</strong> />

imposição <strong>de</strong> cláusulas restritivas so<strong>br</strong>e a legítima. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indicação <strong>de</strong> justa causa (CC, art.<<strong>br</strong> />

1.848) limita­se ao testamento, não se esten<strong>de</strong>ndo às doações”.<<strong>br</strong> />

Como se po<strong>de</strong> perceber da leitura do § 2.º do art. 1.848, por meio <strong>de</strong> autorização judicial e em<<strong>br</strong> />

havendo justa causa (mais uma vez), é possível a alienação dos bens clausulados. Em casos tais, o<<strong>br</strong> />

produto da venda <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>stinado para a aquisição <strong>de</strong> outros bens, em substituição (sub­rogação),<<strong>br</strong> />

que permanecerão <strong>com</strong> as cláusulas dos primeiros. Ilustrando a aplicação do <strong>com</strong>ando, <strong>com</strong> interessante<<strong>br</strong> />

aplicação <strong>de</strong>ssa autorização para alienação, do Tribunal <strong>de</strong> São Paulo:<<strong>br</strong> />

“Cancelamento <strong>de</strong> cláusulas a<strong>br</strong>angendo inalienabilida<strong>de</strong>, impenhorabilida<strong>de</strong> e<<strong>br</strong> />

in<strong>com</strong>unicabilida<strong>de</strong> inci<strong>de</strong>ntes so<strong>br</strong>e imóvel urbano. Morte dos doadores e instituidores da<<strong>br</strong> />

cláusula restritiva há mais <strong>de</strong> quatorze anos. Manutenção do imóvel, difícil e custosa.<<strong>br</strong> />

Inexistência <strong>de</strong> razão para a permanência da restrição, que provoca prejuízo aos donatários<<strong>br</strong> />

maiores e capazes. Acolhimento do pedido <strong>de</strong> cancelamento do vínculo. Recurso provido”<<strong>br</strong> />

(TJSP, Apelação 994.09.319607­4, Acórdão 4647619, Rio Claro, 4.ª Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong><<strong>br</strong> />

Privado, Rel. Des. Natan Zelinschi <strong>de</strong> Arruda, j. 05.08.2010, DJESP 31.08.2010).<<strong>br</strong> />

Não se olvi<strong>de</strong> que, nos termos do art. 1.911 do CC, a cláusula <strong>de</strong> inalienabilida<strong>de</strong>, imposta aos<<strong>br</strong> />

bens por ato <strong>de</strong> liberalida<strong>de</strong>, implica automaticamente em impenhorabilida<strong>de</strong> e in<strong>com</strong>unicabilida<strong>de</strong> do<<strong>br</strong> />

bem. O dispositivo é reprodução parcial da antiga Súmula 49 do STF, pela qual “A cláusula <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

inalienabilida<strong>de</strong> inclui a in<strong>com</strong>unicabilida<strong>de</strong> dos bens”. Ato contínuo, prevê o parágrafo único do art.<<strong>br</strong> />

1.911 que no caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriação <strong>de</strong> bens clausulados, ou <strong>de</strong> sua alienação, por conveniência<<strong>br</strong> />

econômica do donatário ou do her<strong>de</strong>iro, mediante autorização judicial, o produto da venda converter­seá<<strong>br</strong> />

em outros bens, so<strong>br</strong>e os quais incidirão as restrições apostas aos primeiros. Mais uma vez, o<<strong>br</strong> />

CC/2002 prevê a sub­rogação dos bens clausulados, mantendo­se as restrições.

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