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Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017 [materialcursoseconcursos.blogspot.com.br]

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<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><<strong>br</strong> />

non adimpleti contractus), prevista no art. 476 do Código <strong>Civil</strong>, e que po<strong>de</strong> gerar a extinção <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />

contrato bilateral ou sinalagmático, nos casos <strong>de</strong> mútuo <strong>de</strong>scumprimento total do contrato. Por esse<<strong>br</strong> />

dispositivo, uma parte somente po<strong>de</strong> exigir que a outra cumpra <strong>com</strong> a sua o<strong>br</strong>igação, se primeiro<<strong>br</strong> />

cumprir <strong>com</strong> a própria (modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exceptio doli, relacionada à boa­fé objetiva). Como efeito<<strong>br</strong> />

resolutivo, havendo <strong>de</strong>scumprimento bilateral, ou seja, <strong>de</strong> ambas as partes, o contrato reputar­se­á<<strong>br</strong> />

extinto.<<strong>br</strong> />

A exceção <strong>de</strong> contrato não cumprido, em caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>scumprimento total, sempre foi tida <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Entretanto, sendo essa uma cláusula resolutiva tácita para os contratos bilaterais, é<<strong>br</strong> />

possível e re<strong>com</strong>endável alegá­la em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> petição inicial, <strong>com</strong> o objetivo <strong>de</strong> interpelar judicialmente a<<strong>br</strong> />

outra parte visando à extinção contratual, nos termos do art. 474 do CC.<<strong>br</strong> />

Repise­se, ainda so<strong>br</strong>e o tema, que a teoria do adimplemento substancial é um fator a ser levado<<strong>br</strong> />

para a aplicação da exceção <strong>de</strong> contrato não cumprido, po<strong>de</strong>ndo afastar a incidência da última regra.<<strong>br</strong> />

Nessa linha, vale citar, mais uma vez, o Enunciado n. 24, aprovado na I Jornada <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Comercial,<<strong>br</strong> />

promovida pelo Conselho da Justiça Fe<strong>de</strong>ral em 2012, segundo o qual, cabe a alegação da exceção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

contrato não cumprido nos contratos empresariais, inclusive nos negócios coligados, salvo quando a<<strong>br</strong> />

o<strong>br</strong>igação inadimplida for <strong>de</strong> escassa importância.<<strong>br</strong> />

Do âmbito da jurisprudência superior, aplicando a i<strong>de</strong>ia, merece <strong>de</strong>staque a seguinte ementa,<<strong>br</strong> />

relativa a transação entre <strong>com</strong>panheiros: “O Tribunal <strong>de</strong> Justiça do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e dos Territórios<<strong>br</strong> />

consignou que as partes cele<strong>br</strong>aram acordo extrajudicial após a propositura da ação <strong>de</strong> reconhecimento e<<strong>br</strong> />

dissolução <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato, tendo a autora se o<strong>br</strong>igado a <strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> sua pretensão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o réu<<strong>br</strong> />

doasse imóvel à filha <strong>com</strong>um do casal, <strong>com</strong> usufruto pela mãe, sendo que o <strong>de</strong>mandado cumpriu<<strong>br</strong> />

substancialmente <strong>com</strong> a avença, embora não em sua integralida<strong>de</strong>; a autora, por seu turno, quedou­se<<strong>br</strong> />

inadimplente. Desta forma, não inci<strong>de</strong> a teoria da exceptio non adimpleti contractus” (STJ, REsp<<strong>br</strong> />

656.103/DF, 4.ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 12.12.2006, DJ 26.02.2007, p. 595).<<strong>br</strong> />

Pois bem, nos casos <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>scumprimento parcial do contrato, o art. 477 do atual CC<<strong>br</strong> />

consagra a exceptio non rite adimpleti contractus. 84 A norma enuncia que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> concluído o<<strong>br</strong> />

contrato, so<strong>br</strong>evier a uma das partes diminuição em seu patrimônio capaz <strong>de</strong> <strong>com</strong>prometer ou tornar<<strong>br</strong> />

duvidosa a prestação pela qual se o<strong>br</strong>igou, po<strong>de</strong>rá a outra parte recusar­se à prestação que lhe incumbe,<<strong>br</strong> />

até que o primeiro satisfaça a sua ou dê garantia bastante para satisfazê­la. Eventualmente, se a parte<<strong>br</strong> />

que beira à inadimplência não cumprir <strong>com</strong> o que consta do dispositivo, o contrato bilateral estará<<strong>br</strong> />

extinto, após a <strong>de</strong>vida interpelação judicial por parte do interessado na extinção, nos termos do citado<<strong>br</strong> />

art. 474 do CC.<<strong>br</strong> />

O art. 477 do CC/2002 tem relação <strong>com</strong> o que a doutrina contemporânea tem conceituado <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

que<strong>br</strong>a antecipada do contrato ou inadimplemento antecipado (antecipated <strong>br</strong>each of contract). Isso<<strong>br</strong> />

porque, pela citada teoria, se uma parte perceber que há risco real e efetivo, <strong>de</strong>monstrado pela realida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

fática, <strong>de</strong> que a outra não cumpra <strong>com</strong> a sua o<strong>br</strong>igação, po<strong>de</strong>rá antecipar­se, pleiteando a extinção do<<strong>br</strong> />

contrato antes mesmo do prazo para cumprimento. A ressalva é que o dispositivo em <strong>com</strong>ento or<strong>de</strong>na<<strong>br</strong> />

que a parte tente buscar garantias para o cumprimento, para então <strong>de</strong>pois pleitear a resolução. 85 A<<strong>br</strong> />

respeito do instituto, na V Jornada <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong> foi aprovado o seguinte enunciado doutrinário, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

autoria <strong>de</strong> Cristiano Zanetti, professor da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo: “A resolução da relação jurídica<<strong>br</strong> />

contratual também po<strong>de</strong> <strong>de</strong>correr do inadimplemento antecipado” (Enunciado n. 437).<<strong>br</strong> />

Ainda no que concerne ao art. 477 do CC, o dispositivo consagra a chamada exceção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

insegurida<strong>de</strong>, conforme o seguinte enunciado, aprovado na V Jornada <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong>: “A exceção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

insegurida<strong>de</strong>, prevista no art. 477, também po<strong>de</strong> ser oposta à parte cuja conduta põe manifestamente em<<strong>br</strong> />

risco a execução do programa contratual” (Enunciado n. 438). So<strong>br</strong>e a matéria, <strong>com</strong> interessante<<strong>br</strong> />

aplicação prática, vejamos as palavras do proponente do enunciado, o mesmo Professor Cristiano <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Souza Zanetti:

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