08.04.2017 Views

Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017 [materialcursoseconcursos.blogspot.com.br]

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><<strong>br</strong> />

b.1)<<strong>br</strong> />

b.2)<<strong>br</strong> />

Proteção dos direitos difusos e coletivos – conforme consta do sempre citado Enunciado n.<<strong>br</strong> />

23 do CFJ/STJ, não po<strong>de</strong>ndo o contrato prejudicá­los. Por isso, sustenta­se<<strong>br</strong> />

doutrinariamente a função socioambiental do contrato. 22<<strong>br</strong> />

Tutela externa do crédito – possibilida<strong>de</strong> do contrato gerar efeitos perante terceiros ou <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

condutas <strong>de</strong> terceiros repercutirem no contrato. Como exemplo, po<strong>de</strong> ser citada a norma do<<strong>br</strong> />

art. 608 do CC, segundo a qual aquele que aliciar pessoas o<strong>br</strong>igadas por contrato escrito a<<strong>br</strong> />

prestar serviços a outrem, pagará a este o correspon<strong>de</strong>nte a dois anos da prestação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

serviços. Há, assim, a responsabilida<strong>de</strong> do terceiro aliciador, ou terceiro cúmplice, que<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>srespeita a existência do contrato aliciando uma das partes. 23 O dispositivo serve <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

luva para responsabilizar uma cervejaria, frente a outra, pelo fato <strong>de</strong> ter aliciado o famoso<<strong>br</strong> />

pago<strong>de</strong>iro, que tinha contrato <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços publicitários <strong>com</strong> a primeira<<strong>br</strong> />

cervejaria. Nesse sentido, aliás, <strong>de</strong>cidiu a Quinta Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Privado do Tribunal<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> São Paulo, na Apelação 9112793­79.2007.8.26.000, conforme acórdão<<strong>br</strong> />

proferido em 12 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2013 e relatado pelo Desembargador Mônaco da Silva.<<strong>br</strong> />

Ressalve­se apenas que o julgado está fundamentado na função social do contrato e no art.<<strong>br</strong> />

209 da Lei 9.279/1996, que trata da concorrência <strong>de</strong>sleal, e não no art. 608 do CC.<<strong>br</strong> />

Encerrado o estudo da dupla eficácia prática da função social do contrato, insta abordar o art.<<strong>br</strong> />

2.035, parágrafo único, da atual codificação, dispositivo que é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>preensão do sentido do princípio. É a sua redação:<<strong>br</strong> />

“Art. 2.035. (…). Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

or<strong>de</strong>m pública, tais <strong>com</strong>o os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da<<strong>br</strong> />

proprieda<strong>de</strong> e dos contratos”.<<strong>br</strong> />

Ora, o <strong>com</strong>ando legal é primaz por três aspectos primordiais:<<strong>br</strong> />

1.º)<<strong>br</strong> />

2.º)<<strong>br</strong> />

3.º)<<strong>br</strong> />

A norma enuncia que o princípio da função social dos contratos é preceito <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública.<<strong>br</strong> />

Como consequência, cabe sempre intervenção do Ministério Público e conhecimento <strong>de</strong> ofício<<strong>br</strong> />

pelo juiz. Por tal constatação merece críticas a Súmula 381 do STJ que veda ao juiz conhecer<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> ofício da abusivida<strong>de</strong> em contratos bancários. A súmula em questão viola claramente o<<strong>br</strong> />

princípio da função social dos contratos e a regra em <strong>com</strong>ento; além <strong>de</strong> representar um<<strong>br</strong> />

atentado ao Código <strong>de</strong> Defesa do Consumidor. 24<<strong>br</strong> />

O dispositivo coloca a função social dos contratos ao lado da função social da proprieda<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />

dando fundamento constitucional à primeira. Em suma, po<strong>de</strong>­se dizer que a função social dos<<strong>br</strong> />

contratos está baseada na função social da proprieda<strong>de</strong>, constante do art. 5.º, XXII e XXIII, da<<strong>br</strong> />

CF/1988, <strong>com</strong>o queria Miguel Reale. 25 Em reforço, afirma­se <strong>com</strong> convicção que a função<<strong>br</strong> />

social do contrato está estribada nos princípios constitucionais <strong>de</strong> proteção da dignida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

humana (art. 1.º, III) e da solidarieda<strong>de</strong> social (art. 3.º, I). 26<<strong>br</strong> />

Sem qualquer inconstitucionalida<strong>de</strong>, o diploma em <strong>com</strong>ento possibilita que a função social dos<<strong>br</strong> />

contratos seja aplicada a um contrato cele<strong>br</strong>ado na vigência do CC/1916, mas que esteja<<strong>br</strong> />

gerando efeitos na vigência do CC/2002, o que se <strong>de</strong>nomina retroativida<strong>de</strong> motivada ou<<strong>br</strong> />

justificada. A premissa está baseada na antiga lição segundo a qual as normas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />

pública po<strong>de</strong>m retroagir. Nessa linha <strong>de</strong> pensamento, professa Mário Luiz Delgado que “se,<<strong>br</strong> />

por um lado, exige a vida social que a fé na segurança jurídica e estabilida<strong>de</strong> das relações não<<strong>br</strong> />

seja ameaçada pelo receio <strong>de</strong> que uma lei posterior venha a perturbar aquelas que validamente<<strong>br</strong> />

já se formaram, <strong>de</strong> outro também é <strong>de</strong> se exigir a submissão do or<strong>de</strong>namento jurídico aos<<strong>br</strong> />

interesses maiores da coletivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo a se atingir o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> justiça e <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />

representação do bem <strong>com</strong>um”. 27 Exemplificando e citando Fernando Noronha, aponta o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!