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Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017 [materialcursoseconcursos.blogspot.com.br]

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<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><<strong>br</strong> />

exigência da continuida<strong>de</strong> da pessoa humana, sendo pertinente transcrever suas lições:<<strong>br</strong> />

“O <strong>Direito</strong> das Sucessões realiza a finalida<strong>de</strong> institucional <strong>de</strong> dar a continuida<strong>de</strong> possível ao<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>scontínuo causado pela morte.<<strong>br</strong> />

A continuida<strong>de</strong> a que ten<strong>de</strong> o <strong>Direito</strong> das Sucessões manifesta­se por uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

pontos <strong>de</strong> vista.<<strong>br</strong> />

No plano individual, ele procura assegurar finalida<strong>de</strong>s próprias do autor da sucessão, mesmo<<strong>br</strong> />

para além do <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong>ste. Basta pensar na relevância do testamento.<<strong>br</strong> />

A continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixa marca forte na figura do her<strong>de</strong>iro. Veremos que este é concebido ainda<<strong>br</strong> />

hoje <strong>com</strong>o um continuador pessoal do autor da herança, ou <strong>de</strong> cujus. Este aspecto tem a sua<<strong>br</strong> />

manifestação mais alta na figura do her<strong>de</strong>iro legitimário.<<strong>br</strong> />

Mas tão importante <strong>com</strong>o estas é a continuida<strong>de</strong> na vida social. O falecido participou <strong>de</strong>sta, fez<<strong>br</strong> />

contratos, contraiu dívidas… Não seria razoável que tudo se que<strong>br</strong>asse <strong>com</strong> a morte,<<strong>br</strong> />

frustrando os contraentes. É necessário, para evitar so<strong>br</strong>essaltos na vida social, assegurar que<<strong>br</strong> />

os centros <strong>de</strong> interesses criados à volta do autor da sucessão prossigam quanto possível sem<<strong>br</strong> />

fracturas para além da morte <strong>de</strong>ste”. 1<<strong>br</strong> />

Giselda Maria Fernan<strong>de</strong>s Novaes Hironaka apresenta <strong>com</strong>o fundamento pertinente para o <strong>Direito</strong><<strong>br</strong> />

das Sucessões a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alinhar o <strong>Direito</strong> <strong>de</strong> Família ao direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, eis que “o<<strong>br</strong> />

fundamento da transmissão causa mortis estaria não apenas na continuida<strong>de</strong> patrimonial, ou seja, na<<strong>br</strong> />

manutenção pura e simples dos bens na família <strong>com</strong>o forma <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> capital que estimularia a<<strong>br</strong> />

poupança, o trabalho e a economia, mais ainda e principalmente no ‘fator <strong>de</strong> proteção, coesão e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

perpetuida<strong>de</strong> da família’”. 2<<strong>br</strong> />

A partir das lições dos Mestres, conclui­se que o <strong>Direito</strong> Sucessório está baseado no direito <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

proprieda<strong>de</strong> e na sua função social (art. 5.º, XXII e XXIII, da CF/1988). Porém, mais do que isso, a<<strong>br</strong> />

sucessão mortis causa tem esteio na valorização constante da dignida<strong>de</strong> humana, seja do ponto <strong>de</strong> vista<<strong>br</strong> />

individual ou coletivo, conforme o art. 1.º, III e o art. 3.º, I, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988.<<strong>br</strong> />

Em termos gerais, duas são as modalida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> sucessão mortis causa, o que po<strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />

retirado do art. 1.786 do CC:<<strong>br</strong> />

→<<strong>br</strong> />

legítima – aquela que <strong>de</strong>corre da lei, que enuncia a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> vocação hereditária, presumindo a vonta<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Sucessão<<strong>br</strong> />

autor da herança. É também <strong>de</strong>nominada sucessão ab intestato justamente por inexistir testamento.<<strong>br</strong> />

do<<strong>br</strong> />

→<<strong>br</strong> />

testamentária – tem origem em ato <strong>de</strong> última vonta<strong>de</strong> do morto, por testamento, legado ou codicilo,<<strong>br</strong> />

Sucessão<<strong>br</strong> />

sucessórios para exercício da autonomia privada do autor da herança.<<strong>br</strong> />

mecanismos<<strong>br</strong> />

A <strong>com</strong>pletar essa divisão, preconiza o art. 1.788 do CC que, morrendo a pessoa sem <strong>de</strong>ixar<<strong>br</strong> />

testamento, transmite a herança aos her<strong>de</strong>iros legítimos. O mesmo ocorrerá quanto aos bens que não<<strong>br</strong> />

forem <strong>com</strong>preendidos no testamento. Ainda, vale e é eficaz a sucessão legítima se o testamento caducar<<strong>br</strong> />

ou for julgado nulo (nulida<strong>de</strong> absoluta). Em suma, a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> raciocínio a ser seguida na sucessão é<<strong>br</strong> />

primeiro <strong>de</strong> investigar a existência <strong>de</strong> disposição <strong>de</strong> última vonta<strong>de</strong> que seja válida e eficaz. Não<<strong>br</strong> />

havendo tal disposição, vige a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sucessão legítima estabelecida em lei.<<strong>br</strong> />

Nas duas formas da sucessão, o regramento fundamental consta do art. 1.784 do CC, pelo qual<<strong>br</strong> />

aberta a sucessão – o que ocorre <strong>com</strong> a morte da pessoa –, a herança transmite­se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, aos<<strong>br</strong> />

her<strong>de</strong>iros legítimos e testamentários. Trata­se da consagração da máxima droit <strong>de</strong> saisine. A expressão,<<strong>br</strong> />

segundo Jones Figueirêdo Alves e Mário Luiz Delgado, tem origem na expressão gaulesa le mort saisit<<strong>br</strong> />

le vif, pela qual “<strong>com</strong> a morte, a herança transmite­se imediatamente aos sucessores, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> qualquer ato dos her<strong>de</strong>iros. O ato <strong>de</strong> aceitação da herança, conforme veremos posteriormente, tem

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