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Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017 [materialcursoseconcursos.blogspot.com.br]

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<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><<strong>br</strong> />

734 do CC, que preconiza que o transportador somente não respon<strong>de</strong> nos casos <strong>de</strong> força maior (evento<<strong>br</strong> />

previsível, mas inevitável). O caso fortuito (evento totalmente imprevisível) do mesmo modo constitui<<strong>br</strong> />

exclu<strong>de</strong>nte, até porque muitos doutrinadores e a própria jurisprudência consi<strong>de</strong>ram as duas expressões<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o sinônimas (ver: STJ, REsp 259.261/SP, 4.ª Turma, Rel. Min. Sálvio <strong>de</strong> Figueiredo Teixeira, j.<<strong>br</strong> />

13.09.2000, DJ 16.10.2000, p. 316).<<strong>br</strong> />

Ainda a respeito do art. 734, caput, do CC, o dispositivo não admite <strong>com</strong>o exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

responsabilida<strong>de</strong> a cláusula <strong>de</strong> não in<strong>de</strong>nizar (cláusula exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> ou cláusula <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

irresponsabilida<strong>de</strong>), previsão contratual inserida no instrumento do negócio que afasta a<<strong>br</strong> />

responsabilida<strong>de</strong> da transportadora. Repise­se, conforme exposto no Capítulo 4 <strong>de</strong>sta o<strong>br</strong>a, que o<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>ando apenas confirma o entendimento jurispru<strong>de</strong>ncial anterior, consubstanciado na Súmula 161 do<<strong>br</strong> />

STF (“Em contrato <strong>de</strong> transporte é inoperante a cláusula <strong>de</strong> não in<strong>de</strong>nizar”). A referida súmula po<strong>de</strong> até<<strong>br</strong> />

parecer <strong>de</strong>snecessária atualmente, mas não o é, po<strong>de</strong>ndo ser invocada para os casos <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

coisas, eis que o art. 734 do CC trata apenas do transporte <strong>de</strong> pessoas.<<strong>br</strong> />

O parágrafo único do art. 734 do CC merece maiores digressões, in verbis: “É lícito ao<<strong>br</strong> />

transportador exigir a <strong>de</strong>claração do valor da bagagem a fim <strong>de</strong> fixar o limite da in<strong>de</strong>nização”. O<<strong>br</strong> />

dispositivo visa a valorizar a boa­fé objetiva no contrato <strong>de</strong> transporte, particularmente quanto ao <strong>de</strong>ver<<strong>br</strong> />

do passageiro <strong>de</strong> informar o conteúdo da sua bagagem para que o transportador possa prefixar eventual<<strong>br</strong> />

valor in<strong>de</strong>nizatório.<<strong>br</strong> />

Dúvida resta quanto à in<strong>com</strong>patibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse dispositivo em relação ao CDC na hipótese <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

existir relação <strong>de</strong> consumo no contrato <strong>de</strong> transporte, eis que o art. 6.º, VI, consagra o princípio da<<strong>br</strong> />

reparação integral <strong>de</strong> danos, o que afasta qualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tarifação da in<strong>de</strong>nização, inclusive<<strong>br</strong> />

por contrato.<<strong>br</strong> />

Deve­se enten<strong>de</strong>r que o art. 734 do CC não torna o<strong>br</strong>igatória ao consumidor­passageiro a referida<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>claração. Na verda<strong>de</strong>, o dispositivo enuncia que é lícito exigir a <strong>de</strong>claração do valor da bagagem,<<strong>br</strong> />

visando facilitar a prova do prejuízo sofrido em eventual <strong>de</strong>manda. Não sendo feita a referida<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>claração, torna­se difícil <strong>com</strong>provar o que está <strong>de</strong>ntro da bagagem. Anote­se, todavia, que po<strong>de</strong> o<<strong>br</strong> />

consumidor utilizar­se da inversão do ônus da prova, prevista no art. 6.º, VIII, do CDC (assim<<strong>br</strong> />

concluindo: STJ, REsp 696.408/MT, 4.ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 07.06.2005, DJ<<strong>br</strong> />

29.05.2006, p. 254).<<strong>br</strong> />

Estabelece o art. 735 da atual codificação material que “a responsabilida<strong>de</strong> contratual do<<strong>br</strong> />

transportador por aci<strong>de</strong>nte <strong>com</strong> o passageiro não é elidida por culpa <strong>de</strong> terceiro contra qual tem ação<<strong>br</strong> />

regressiva”. Relem<strong>br</strong>e­se, conforme consta do Capítulo 3 <strong>de</strong>ste livro, que essa redação segue a Súmula<<strong>br</strong> />

187 do STF, que tinha exatamente a mesma redação. Ilustrando, o dispositivo e a súmula servem para<<strong>br</strong> />

responsabilizar as empresas aéreas por aci<strong>de</strong>ntes que causam a morte <strong>de</strong> passageiros. Mesmo havendo<<strong>br</strong> />

culpa exclusiva <strong>de</strong> terceiros, inclusive <strong>de</strong> agentes do Estado ou <strong>de</strong> pilotos <strong>de</strong> outras aeronaves, as<<strong>br</strong> />

empresas que exploram o serviço <strong>de</strong>vem in<strong>de</strong>nizar os familiares das vítimas, tendo ação regressiva<<strong>br</strong> />

contra os responsáveis. Assim, a aplicação do CC/2002 é até mais favorável aos consumidores do que o<<strong>br</strong> />

próprio CDC, eis que a Lei 8.078/1990 consagra a culpa exclusiva <strong>de</strong> terceiro <strong>com</strong>o exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

responsabilização na prestação <strong>de</strong> serviços (art. 14, § 3.º, II).<<strong>br</strong> />

Mais uma vez retomando tema já exposto no Capítulo 3, relativamente ao transporte feito <strong>de</strong> forma<<strong>br</strong> />

gratuita, por amiza<strong>de</strong> ou cortesia, popularmente <strong>de</strong>nominado carona, não se subordina às normas do<<strong>br</strong> />

contrato <strong>de</strong> transporte (art. 736, caput, do CC). O dispositivo está sintonizado <strong>com</strong> a Súmula 145 do<<strong>br</strong> />

STJ, pela qual: “No transporte <strong>de</strong>sinteressado, <strong>de</strong> simples cortesia, o transportador só será civilmente<<strong>br</strong> />

responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave”.<<strong>br</strong> />

Reafirme­se que, na opinião <strong>de</strong>ste autor, no transporte por cortesia, não há responsabilida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

contratual objetiva daquele que dá a carona. A responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste é extracontratual, subjetiva,<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da prova <strong>de</strong> culpa. Enten<strong>de</strong>mos, porém, que a parte final da referida súmula <strong>de</strong>ve ser<<strong>br</strong> />

revista, pois a responsabilida<strong>de</strong> surge presente a culpa em qualquer grau. Na realida<strong>de</strong>, o dolo ou a

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