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Manual de Direito Civil - Flávio Tartuce - 7ª Ed. - 2017 [materialcursoseconcursos.blogspot.com.br]

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<strong>Manual</strong> <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong><<strong>br</strong> />

A extensão do dano para a coletivida<strong>de</strong>, material e imaterial, foi levada em conta para a fixação da<<strong>br</strong> />

in<strong>de</strong>nização, reconhecendo­se o caráter pedagógico ou disciplinador da responsabilida<strong>de</strong> civil, <strong>com</strong> uma<<strong>br</strong> />

função <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestímulo para a repetição da conduta. Uma outra ilustração po<strong>de</strong> envolver o sindicato <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

uma <strong>de</strong>terminada categoria que, em ato <strong>de</strong> greve, resolve parar a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, fazendo a sua<<strong>br</strong> />

manifestação na principal avenida da cida<strong>de</strong>, em plena sexta­feira à tar<strong>de</strong>. Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar, <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

no caso anterior, quais foram as pessoas prejudicadas, mas ao certo é nítida a soma <strong>de</strong> uma conduta<<strong>br</strong> />

socialmente reprovável <strong>com</strong> um prejuízo a direitos difusos, <strong>de</strong> integrantes da coletivida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

No ano <strong>de</strong> 2013 surgiu outro acórdão so<strong>br</strong>e o tema, que merece especial <strong>de</strong>staque, por sua<<strong>br</strong> />

indiscutível amplitu<strong>de</strong> perante toda a coletivida<strong>de</strong>. O julgado, da Quarta Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Privado<<strong>br</strong> />

Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> São Paulo, con<strong>de</strong>nou a empresa AMIL a pagar uma in<strong>de</strong>nização <strong>de</strong> R$<<strong>br</strong> />

1.000.000,00 (um milhão <strong>de</strong> reais) a título <strong>de</strong> danos sociais, valor que <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>stinado ao Hospital<<strong>br</strong> />

das Clínicas <strong>de</strong> São Paulo. A con<strong>de</strong>nação se <strong>de</strong>u diante <strong>de</strong> reiteradas negativas <strong>de</strong> coberturas médicas,<<strong>br</strong> />

notoriamente praticadas por essa operadora <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Vejamos sua ementa:<<strong>br</strong> />

“Plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Pedido <strong>de</strong> cobertura para internação. Sentença que julgou proce<strong>de</strong>nte pedido<<strong>br</strong> />

feito pelo segurado, <strong>de</strong>terminado que, por se tratar <strong>de</strong> situação <strong>de</strong> emergência, fosse dada a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>vida cobertura, ainda que <strong>de</strong>ntro do prazo <strong>de</strong> carência, mantida. Dano moral. Caracterização<<strong>br</strong> />

em razão da peculiarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se cuidar <strong>de</strong> paciente a<strong>com</strong>etido por infarto, <strong>com</strong> a recusa <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

atendimento e, consequentemente, procura <strong>de</strong> outro hospital em situação nitidamente aflitiva.<<strong>br</strong> />

Dano social. Contratos <strong>de</strong> seguro­saú<strong>de</strong>, a propósito <strong>de</strong> hipóteses reiteradamente analisadas e<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>cididas. In<strong>de</strong>nização <strong>com</strong> caráter expressamente punitivo, no valor <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> reais<<strong>br</strong> />

que não se confun<strong>de</strong> <strong>com</strong> a <strong>de</strong>stinada ao segurado, revertida ao Hospital das Clínicas <strong>de</strong> São<<strong>br</strong> />

Paulo. Litigância <strong>de</strong> má­fé. Configuração pelo caráter protelatório do recurso. Aplicação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

multa. Recurso da seguradora <strong>de</strong>sprovido e do segurado provido em parte” (TJSP, Apelação<<strong>br</strong> />

0027158­41.2010.8.26.0564, 4.ª Câmara <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> Privado, Comarca <strong>de</strong> Origem: São<<strong>br</strong> />

Bernardo do Campo, Rel. Des. Teixeira Leite, j. 07.2013).<<strong>br</strong> />

Frise­se que o aresto reconhece o dano moral individual suportado pela vítima, in<strong>de</strong>nizando­se em<<strong>br</strong> />

R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), em cumulação <strong>com</strong> o relevante valor mencionado, a título <strong>de</strong> danos<<strong>br</strong> />

sociais. Quanto ao último montante, consta do voto vencedor, <strong>com</strong> maestria, “que uma acentuada<<strong>br</strong> />

importância em dinheiro po<strong>de</strong> soar <strong>com</strong>o alta a uma primeira vista, mas, isso logo se dissipa em se<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>parada ao lucro exagerado que a seguradora obtém negando coberturas e o<strong>br</strong>igando que seus<<strong>br</strong> />

contratados, enquanto pacientes, a buscar na Justiça o que o próprio contrato lhes garante. Aliás, não só<<strong>br</strong> />

se ganha ao regatear e impor recusas absurdas, <strong>com</strong>o ainda agrava o sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública,<<strong>br</strong> />

o<strong>br</strong>igando a busca <strong>de</strong> alternativas nos hospitais não conveniados e que cumprem missão humanitária,<<strong>br</strong> />

fazendo <strong>com</strong> que se <strong>de</strong>sdo<strong>br</strong>em e gastem mais para curar doentes que possuem planos <strong>de</strong> assistência<<strong>br</strong> />

médica. Portanto, toda essa <strong>com</strong>paração permite, e autoriza, nessa <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> um segurado, impor uma<<strong>br</strong> />

in<strong>de</strong>nização punitiva <strong>de</strong> cunho social que será revertida a uma das instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mais atuantes, o<<strong>br</strong> />

que, quem sabe, irá servir para <strong>de</strong>spertar a noção <strong>de</strong> cidadania da seguradora”. O presente autor tem a<<strong>br</strong> />

honra <strong>de</strong> ter sido citado no julgamento, fundamentando gran<strong>de</strong> parte das suas <strong>de</strong>duções jurídicas.<<strong>br</strong> />

O valor da in<strong>de</strong>nização social foi fixado <strong>de</strong> ofício pelos julgadores, o que po<strong>de</strong> ocorrer em casos<<strong>br</strong> />

tais, por ser a matéria <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública. Como fundamento legal para tanto, por se tratar <strong>de</strong> questão<<strong>br</strong> />

atinente a direitos dos consumidores, cite­se o art. 1.º do Código <strong>de</strong> Defesa do Consumidor, que dispõe<<strong>br</strong> />

ser a Lei 8.078/1990 norma <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pública e interesse social. Sendo assim, toda a proteção constante<<strong>br</strong> />

da Lei Consumerista po<strong>de</strong> ser reconhecida <strong>de</strong> ofício pelo julgador, inclusive o seu art. 6.º, inc. VI, que<<strong>br</strong> />

trata dos danos morais coletivos e dos danos sociais ou difusos, consagrando o princípio da reparação<<strong>br</strong> />

integral dos danos na ótica consumerista.<<strong>br</strong> />

Por oportuno, anote­se que, quando da VI Jornada <strong>de</strong> <strong>Direito</strong> <strong>Civil</strong>, realizada em 2013, foi feita<<strong>br</strong> />

proposta <strong>de</strong> enunciado doutrinário <strong>com</strong> o seguinte teor: “É legítimo ao juiz reconhecer a existência <strong>de</strong>

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