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Comentário Evangelho Segundo João - Vol. 1

Comentário de João Calvino no Evangelho Segundo João - Vol. 1.

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Capítulo 3 • 121<br />

Respondo que as palavras de Cristo outra coisa não significam<br />

senão que, ao nascermos, somos todos carnais e que, desde que entramos<br />

neste mundo como mortais, outra coisa nossa natureza não tem<br />

provado ser senão que é carne. Ele está simplesmente fazendo distinção<br />

entre a natureza e um dom sobrenatural. Pois a corrupção de todo<br />

o gênero humano, só na pessoa de Adão, não procedeu de geração,<br />

mas da ordenança de Deus. Como num só homem ele nos adornou a<br />

todos, assim também nele privou a todos nós de seus dons. Portanto,<br />

não recebemos nosso vício e corrupção de nossos pais, mas somos<br />

todos igualmente corrompidos tão somente em Adão, porque, imediatamente<br />

após sua queda, Deus retirou da natureza humana o que lhe<br />

havia dado.<br />

Aqui surge outra dificuldade. É indiscutível que em nossa natureza<br />

degenerada e viciada ainda permanece algum resquício dos dons<br />

divinos. Portanto, segue-se que não somos pervertidos em todas as<br />

partes. A solução é simples, ou, seja: os dons que o Senhor nos deixou<br />

após a queda são indubitavelmente dignos de louvor, julgados em si<br />

mesmos. Visto, porém, que o contágio do mal permeia todas as partes,<br />

em nós nada se achará puro e livre de toda e qualquer mácula. Que<br />

algum conhecimento de Deus nos seja inerente; que alguma distinção<br />

entre o bem e o mal esteja gravada em nossas consciências; que tenhamos<br />

a capacidade de prover sustento para a nossa presente vida; que,<br />

em suma, exaltamos os brutos de muitas formas, é por si só excelente,<br />

visto que procede de Deus.<br />

Todas essas coisas, porém, estão poluídas em nós, assim como o<br />

vinho que ficou completamente deteriorado e contaminado pelo mau<br />

cheiro de seus odres perde a amenidade de seu aroma e tem um sabor<br />

amargo e horrível. Pois o conhecimento que ora permanece nos<br />

homens nada é senão terrível fonte de idolatria e de todas as superstições.<br />

O juízo de escolher e distinguir as coisas é, em parte, cego e<br />

tolo, e em parte imperfeito e confuso. Todo esforço que temos é despendido<br />

em vaidade e trivialidades e a própria vontade se precipita de<br />

ponta cabeça com intenso ímpeto para o mal. E assim, em toda nossa

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