06.10.2015 Views

Comentário Evangelho Segundo João - Vol. 1

Comentário de João Calvino no Evangelho Segundo João - Vol. 1.

Comentário de João Calvino no Evangelho Segundo João - Vol. 1.

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

264 • <strong>Comentário</strong> do <strong>Evangelho</strong> de <strong>João</strong><br />

so poder?” Por as obras de Deus devemos entender aquelas que Deus<br />

exige e as quais ele aprova.<br />

29. A obra de Deus é esta. Eles têm falado de obras. Cristo traz<br />

a sua lembrança apenas uma obra, ou seja, a fé. Com isso, ele pretende<br />

dizer que tudo quanto os homens empreendem sem fé é vão<br />

e inútil, mas que a única coisa suficiente é fé, porque o que Deus<br />

requer de nós é somente isto: que creiais. Pois há aqui um contraste<br />

implícito entre fé e obras, e os esforços humanos, como se quisesse<br />

dizer: Quando os homens lutam para agradar a Deus sem fé, eles<br />

lutam sem qualquer propósito, porque, ao correrem, por assim dizer,<br />

fora da raia, não avançam rumo ao alvo. Esta é uma passagem<br />

notável, a qual mostra que, embora os homens se atormentem desditosamente<br />

ao longo de toda sua vida, todavia perdem seu tempo<br />

se não têm fé em Cristo como a norma de sua vida. Os que inferem<br />

desta passagem que a fé é um dom de Deus estão equivocados, pois<br />

Cristo não mostra aqui o que Deus produz em nós, mas o que ele<br />

quer e requer de nós.<br />

Mas é possível que achemos estranho que Deus nada mais aprove<br />

senão somente fé, pois não se deve desprezar o amor ao nosso próximo,<br />

e os demais exercícios da religião não perdem seu lugar e honra.<br />

Assim, pois, ainda que a fé mantenha sua posição mais elevada, todavia<br />

as demais obras não são supérfluas. A resposta é fácil, pois a fé não<br />

exclui nem o amor ao nosso próximo, nem qualquer outra boa obra,<br />

porque ela os contém inerentemente. A fé é chamada a única obra de<br />

Deus porque por meio dela possuímos a Cristo, e assim nos tornamos<br />

filhos de Deus, de modo que ele nos governa por meio de seu Espírito.<br />

Assim, pois, visto que Cristo não separa a fé de seus frutos, não carece<br />

que nos admiremos se ele faz dela o princípio e o fim. 23<br />

23 “Proram et puppim”, literalmente, “a popa e a proa”, um idiotismo latino para a<br />

totalidade. A versão francesa do Autor (edição de 1558) traduz a sentença assim: “il ne se<br />

faut pont esbahir s’il constitue en elle la fin et le commencement”. “Não devemos sentirnos<br />

perplexos se a fizermos ser o fim e o princípio”, e na edição de 1564, a redação fica<br />

assim: “ce n’est pas merveille que la foy est tout ce que Dieu requiert” – “não admira que<br />

a fé seja tudo o que Deus requer”.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!