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Comentário Evangelho Segundo João - Vol. 1

Comentário de João Calvino no Evangelho Segundo João - Vol. 1.

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Capítulo 6 • 295<br />

63. É o Espírito que vivifica. Pelo uso que Cristo faz dessas palavras,<br />

ele mostra a razão para os judeus não usufruíram nem um<br />

pouco sua doutrina que, sendo espiritual e vivificante, não encontra<br />

ouvidos bem preparados. Mas, como esta passagem tem sido<br />

explicada diversamente, será de primeira importância determinar<br />

o significado natural das palavras, à luz das quais será fácil perceber<br />

a intenção de Cristo. Ao afirmar que da carne nada se aproveita,<br />

Crisóstomo, impropriamente em minha opinião, faz a expressão referir-se<br />

aos judeus, que eram carnais. De bom grado, reconheço que<br />

nos mistérios celestiais, todo o poder da mente humana é totalmente<br />

ineficaz, mas as palavras de Cristo não comportam tal significado,<br />

caso não devam ser violentamente deturpadas. Igualmente forçada<br />

seria tal opinião, quando aplicada à sentença anexa. isto é, é a iluminação<br />

do Espírito que vivifica. Tampouco aprovo os conceitos dos<br />

que dizem que a carne de Cristo é proveitosa, no que diz respeito a<br />

ser ele crucificado, mas que, quando é comida, não nos é de nenhum<br />

proveito, pois, ao contrário, devemos comê-la, para que, tendo sido<br />

crucificada, nos seja proveitosa.<br />

Agostinho pensa que devemos introduzir a palavra somente, ou<br />

por si mesma, como se fosse dito: “A carne sozinha, por si mesma, é<br />

sem proveito”, 56 visto que ele tem de ser acompanhada pelo Espírito.<br />

Este significado concorda bem com o escopo do discurso, pois Cristo<br />

se refere simplesmente à maneira de comer. Portanto, ele não exclui<br />

todo gênero de utilidade, como se nada pudesse ser obtido de sua<br />

carne. Ele, porém, declara que, se ela for separada do Espírito, então<br />

será inútil. Pois que poder tem a de vivificar senão por ser ela espiritual?<br />

Consequentemente, seja quem for que fixe toda sua atenção na<br />

natureza terrena da carne, nada achará nela senão o que é morto. Mas<br />

aqueles que erguem seus olhos para o poder do Espírito, que está difuso<br />

na carne, aprenderão do real efeito e da experiência da fé que não é<br />

sem razão que ela seja chamada vivificante.<br />

56 “Comme s’il estoit dit, La chair seule et par soy ne profite de rien”.

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