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Comentário Evangelho Segundo João - Vol. 1

Comentário de João Calvino no Evangelho Segundo João - Vol. 1.

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Capítulo 1 • 83<br />

Além do mais, visto que esta passagem é também uma definição<br />

de Cristianismo, não devemos ignorá-la precipitadamente. Ora, a<br />

fim de sumariar em poucas palavras o que Cristo tinha em mente, é<br />

preciso observar bem que dolo é contrastado com sinceridade. 28 Daí<br />

ele chamar de astuciosos 29 ou dolosos aqueles que, em outras partes<br />

da Escritura, são caracterizados como tendo coração doble [Sl 12.2].<br />

Tampouco tal referência se restringe apenas à hipocrisia daqueles que<br />

são cônscios de que, sendo perversos, pretendem passar por bons,<br />

mas também àquela hipocrisia secreta, quando os homens são tão<br />

cegados por seus pecados, que enganam não só aos outros, mas até<br />

mesmo a si próprios. O que faz um cristão é a integridade aos olhos de<br />

Deus e a retidão diante dos homens. O que Cristo está principalmente<br />

enfatizando é aquele engano de que fala o Salmo 32.2. ἀληθῶς [verdadeiramente]<br />

aqui significa algo mais que certamente. O termo grego é,<br />

às vezes, usado como uma simples afirmação; mas, como devemos<br />

apresentar uma antítese entre a realidade e o mero título, ao dizer, “em<br />

verdade”, é a realidade que está subentendida.<br />

48. Donde me conheces? Embora Cristo não tivesse a intenção de<br />

lisonjeá-lo, contudo queria ganhar a atenção para uma nova pergunta,<br />

por meio de uma resposta que provaria ser ele o Filho de Deus. Nem<br />

é fora de propósito a indagação de Natanael, donde Cristo o conhecia,<br />

pois um homem tão sincero que se vê isento de dolo é um modelo<br />

raro, e o conhecimento dessa pureza de coração pertence tão somente<br />

a Deus. A resposta de Cristo, contudo, parece destituída de sentido.<br />

Ter visto Natanael debaixo de uma figueira não é prova suficiente de<br />

que ele pudesse penetrar os recônditos mais profundos do coração.<br />

A razão, porém, é outra. Assim como pertence a Deus conhecer os<br />

homens quando não são vistos, assim também [lhe pertence] ver o<br />

que é invisível aos olhos [humanos]. Visto que Natanael percebeu que<br />

Cristo pôde vê-lo não da forma como os homens veem, mas por meio<br />

de uma visão verdadeiramente divina, assim pôde deduzir que Cristo<br />

28 “Rondeur et syncerité.”<br />

29 “Canteleux et Frauduleux.”

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