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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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vez e o chamou.<br />

— Bombeiro!<br />

O solda<strong>do</strong> se virou para a mulher. Ela ainda trazia a vela para clarear seu caminho.<br />

— Meu nome é Queiroz, <strong>do</strong>na.<br />

— Pode me ajudar um instante?<br />

— A Defesa Civil virá ajudar a senhora, não tenha me<strong>do</strong>, está tu<strong>do</strong> sob controle, é só<br />

uma evacuação...<br />

— Eu sei, eu sei. Mas eu estou muito aflita — disse a mulher, começan<strong>do</strong> a chorar.<br />

— Minha avó não se mexe.<br />

Queiroz ouviu as batidas no andar de baixo. Olhou para a face tensa da mulher, que<br />

já tinha seus quarenta e poucos anos, de olhos re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>s e rosto benfeito. O decote aberto<br />

novamente. Queiroz olhou para a escada e depois para ela.<br />

— Estou com me<strong>do</strong>, Queiroz. Me ajuda.<br />

— Tá certo. Vamos ver a sua avó.<br />

Queiroz entrou na sala espaçosa. Eram apartamentos grandes. Na parede, perto de<br />

uma mesa de jantar, um quadro da Santa Ceia.<br />

— A senhora viu quan<strong>do</strong> começou o incêndio lá embaixo?<br />

— Não vi, não, senhor. Só fui perceber que tinha incêndio quan<strong>do</strong> ouvi as sirenes <strong>do</strong>s<br />

bombeiros e das ambulâncias. Meu prédio é vira<strong>do</strong> para os fun<strong>do</strong>s, difícil de bisbilhotar.<br />

Os <strong>do</strong>is caminhavam pelo corre<strong>do</strong>r. O quarto da avó era o último, a suíte.<br />

— Não sentiu o cheiro da fumaça?<br />

— Não. — A mulher parou e se virou para o bombeiro quan<strong>do</strong> chegou ao batente da<br />

porta. Tinha uma expressão enigmática no rosto.<br />

Queiroz apontou a lanterna para dentro <strong>do</strong> quarto, enquanto a mulher parecia pensar<br />

em alguma coisa, franzin<strong>do</strong> a testa e colocan<strong>do</strong> a mão na cintura. Viu a cama e, sobre<br />

ela, revela<strong>do</strong> pela luz branca e lavada de sua lanterna de LED, viu o corpo da velha.<br />

Parecia um fantasma de tão pálida. O rosto da senhora era encova<strong>do</strong> e raja<strong>do</strong> de ranhuras<br />

criadas pelas rugas. Parecia ter uns cem anos. Estava vestida num pijama de flanela que<br />

aparentava ser quentinho e confortável. Imóvel. Igual a uma morta.<br />

— Agora que você falou de cheiro de fumaça, eu lembro que lá pela meia-noite,<br />

pouco antes de vocês chegarem aqui, eu ouvi um barulho no céu, como se fosse uma<br />

explosão, um trovão, sabe?<br />

— É. Nós ouvimos <strong>do</strong> carro também, quan<strong>do</strong> estávamos a caminho. Até pensamos<br />

que o galpão aí <strong>do</strong> la<strong>do</strong> tinha i<strong>do</strong> pelos ares.<br />

— E depois veio um cheiro de fio queima<strong>do</strong>, sabe? Eu andei pelo apartamento<br />

procuran<strong>do</strong> se minha avó tinha deixa<strong>do</strong> um ferro de passar liga<strong>do</strong>, e, quan<strong>do</strong> vasculhava

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