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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— Bem, até o HC vai levar uns quarenta minutos, no mínimo.<br />

— Ontem eu aban<strong>do</strong>nei meu posto. Fui obriga<strong>do</strong>. Esse negócio de gente com<br />

problema <strong>do</strong> sono me deixou muito cabreiro. Fiquei pensan<strong>do</strong> na minha irmã e nos meus<br />

sobrinhos. Eles podiam estar na mesma situação.<br />

— Certo. Qualquer um ficaria. Nunca vi o batalhão tão desordena<strong>do</strong> como ontem.<br />

— Acontece que o capitão não tava liberan<strong>do</strong> ninguém. Depois de conversar com o<br />

Santos, vazei na miúda. O Santos já estava com a cabeça atrapalhada, falan<strong>do</strong> em fim <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> e tu<strong>do</strong>. Não sei, acho que fui influencia<strong>do</strong> pela conversa dele.<br />

— Tá, mas e daí?<br />

— Daí que a minha ideia era ir lá em casa, dar uma bisolhada e voltar para o<br />

batalhão. Saí no fim da tarde, quan<strong>do</strong> estava a maior zona. Ninguém me viu. Fiquei me<br />

sentin<strong>do</strong> péssimo, Rossi, mas não consegui parar de pensar na minha irmã.<br />

— Normal, sargento. Acha que se o meu velho tivesse vivo eu teria <strong>do</strong>rmi<strong>do</strong> no<br />

batalhão? Nem a pau! E ninguém pode abrir a boca pra falar de você. Tá pra nascer<br />

sargento mais ponta firme e caxias que você.<br />

— E, com os telefones fora de serviço, eu não tinha a menor ideia de como as coisas<br />

estavam. Quan<strong>do</strong> eu saí era mais de seis da tarde, já começava a escurecer e, para piorar,<br />

não tinha mais ônibus nenhum circulan<strong>do</strong>. Eu não podia pedir ajuda no batalhão, porque<br />

estava aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> meu posto, não podia nem pegar a Kara para não levantar suspeita.<br />

— Tá, mas isso to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> viu. Os telefones zoa<strong>do</strong>s e os ônibus faltan<strong>do</strong> já é ruim;<br />

o que mais aconteceu para te dar certeza de que isso ainda vai piorar?<br />

— Como disse, não tinha ônibus, e só tinha um jeito de eu chegar em casa.<br />

— De táxi.<br />

— Não. Fui a pé.<br />

— Caraca, Porto! Você queria mesmo achar a sua irmã!<br />

— Comecei a andar para não perder tempo, mas, a cada quadra, não tinha jeito, a<br />

curiosidade me pegava e eu me colocava a olhar para a cidade já desordenada, e<br />

começan<strong>do</strong> a dar sinais de que a coisa toda ia degringolar.<br />

— Do que você tá falan<strong>do</strong>, cara? Desenvolve isso, daqui a pouco começo a <strong>do</strong>rmir<br />

aqui cavalgan<strong>do</strong>.<br />

— Os prédios em chamas.<br />

— Mas isso não é um sinal, é uma consequência. Sem telefone para a população pedir<br />

ajuda, os bombeiros não iam chegar nunca. O Evandro chegou dizen<strong>do</strong> que no meu<br />

bairro foram os mora<strong>do</strong>res mesmo que combateram o fogo em um prédio de cinco<br />

andares.<br />

— E <strong>do</strong> rosto desesperança<strong>do</strong> e assusta<strong>do</strong> das pessoas, ele te falou também?

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