19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

pela boca. Laerte estava acorda<strong>do</strong> e se contorcia amarra<strong>do</strong> no leito. Não tentava livrar as<br />

mãos, mas se contorcia como se tivesse câimbras percorren<strong>do</strong> o corpo. Notou que na<br />

altura <strong>do</strong> travesseiro um líqui<strong>do</strong> viscoso tinha se acumula<strong>do</strong>, amarelo, féti<strong>do</strong>, e que a<br />

mesma baba espumosa <strong>do</strong> cirurgião escapava pela boca <strong>do</strong> enfermeiro.<br />

— Calma, Laerte. Consegue falar?<br />

— Nãoooo! — urrou o enfermeiro, encaran<strong>do</strong> o médico.<br />

— De zero a dez, qual é a intensidade da <strong>do</strong>r que está sentin<strong>do</strong>?<br />

— Onze, seu filho da puta. Para de me injetar essa porra!<br />

O médico apalpou a barriga <strong>do</strong> enfermeiro. A cavidade ab<strong>do</strong>minal estava mais flácida<br />

<strong>do</strong> que o normal, mas o que mais chamou a sua atenção foi a pele fria <strong>do</strong> paciente.<br />

— Tirou a temperatura dele, Bárbara?<br />

— Ainda não, <strong>do</strong>utor.<br />

Um brilho no lábio <strong>do</strong> paciente chamou a atenção <strong>do</strong> médico. Ele segurou a cabeça<br />

<strong>do</strong> enfermeiro firmemente e, com o indica<strong>do</strong>r da outra mão, ergueu o seu lábio superior.<br />

A surpresa foi inevitável. O canino de Laerte estava altera<strong>do</strong>, proeminente, projetan<strong>do</strong>-se<br />

para baixo até comprimir o lábio inferior. Ia chamar a enfermeira para ver aquilo<br />

quan<strong>do</strong> se assustou com um movimento violento <strong>do</strong> paciente, que tentou morder sua<br />

mão. Otávio deu <strong>do</strong>is passos para trás, assusta<strong>do</strong>. Seus olhos foram para os outros leitos.<br />

A maioria <strong>do</strong>s pacientes começou a gemer.<br />

— Está <strong>do</strong>en<strong>do</strong> muito, <strong>do</strong>utor. Me ajuda! — gritou Laerte.<br />

O médico olhou para trás, pela janela. O sol morria lentamente, e sua luz estava<br />

perdida, distante <strong>do</strong> hospital, deixan<strong>do</strong> a noite chegar e cobrir a cidade.<br />

— Aaaaaah! — gritou o cirurgião deita<strong>do</strong> em outro leito.<br />

O grito foi tão alto e apavorante que fez Bárbara e Garcia estremecerem junto à<br />

porta.<br />

O médico olhou para os pacientes sem compreender de onde vinha tanta <strong>do</strong>r e<br />

agonia. Eles precisavam se acalmar para conseguirem dizer o que estava acontecen<strong>do</strong>, o<br />

que permitiria ao médico uma conduta mais assertiva no uso das drogas. Era isso que<br />

pensava quan<strong>do</strong> os alarmes <strong>do</strong>s monitores liga<strong>do</strong>s ao enfermeiro Laerte começaram a<br />

soar.<br />

— Me solta, me solta! — começou a vociferar a enfermeira Francine, chacoalhan<strong>do</strong>se<br />

e fazen<strong>do</strong> a cama inteira vibrar.<br />

Otávio ainda estava letárgico quan<strong>do</strong> o segun<strong>do</strong> alarme disparou, agora no leito <strong>do</strong><br />

radiologista <strong>do</strong> HC. Duas paradas cardiorrespiratórias.<br />

— Tragam o desfibrila<strong>do</strong>r! — coman<strong>do</strong>u o plantonista.<br />

O grito <strong>do</strong> médico tirou Garcia também da letargia que tinha lhe apanha<strong>do</strong>. Correu

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!