19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Jessé deu de ombros.<br />

— Acho que não. Matar o irmão é um boca<strong>do</strong> violento.<br />

O rapaz levantou-se e caminhou pelo grama<strong>do</strong> artificial. A portaria <strong>do</strong> prédio estava<br />

escura. Olhou para a torre onde morava. Uma mulher estava na sacada <strong>do</strong> quarto andar,<br />

com metade de uma vela dentro de um copo. Ela entrou, amedrontada, quan<strong>do</strong> notou<br />

que ele a observava.<br />

— Eu estou in<strong>do</strong> para o HC procurar um amigo. Se quiser fugir daqui comigo, a<br />

hora é essa.<br />

Ludmyla levantou-se e bateu as mãos nas coxas, como se estivesse decidin<strong>do</strong> entre<br />

subir e assistir a um filme novo ou ir com uma amiga dar uma banda no shopping.<br />

— Eu vou com você. Não posso mais ficar aqui. Não quero mais subir e ver meu<br />

irmão morto.<br />

A dupla caminhou até a portaria <strong>do</strong> con<strong>do</strong>mínio. Jessé acreditava que estava vazia,<br />

mas encontrou seu Marco, o zela<strong>do</strong>r, de pé, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora da guarita. Ele girou a chave<br />

na fechadura ao ver o casal se aproximan<strong>do</strong>.<br />

— Estamos sem energia desde a uma da tarde, minha gente. E sem telefone e sem<br />

jeito de falar com o pessoal da Eletropaulo.<br />

— A coisa tá feia, não é, seu Marco?<br />

— Nem me fale, seu Jessé. Desde ontem o trem tá estranho demais. Se tiver comida<br />

na geladeira, vai azedar.<br />

— Tenso — murmurou baixinho Ludmyla.<br />

— Tô achan<strong>do</strong> que vai ficar pior antes de melhorar — profetizou o porteiro.<br />

— Por quê?<br />

— Acho que a Eletropaulo e a Telefônica não vão dar conta <strong>do</strong> reca<strong>do</strong>. O pessoal já<br />

está assusta<strong>do</strong> e em pânico com essa coisa de <strong>do</strong>ença <strong>do</strong> sono. O povo vai entrar em<br />

colapso.<br />

— Hum, falan<strong>do</strong> difícil, hein?<br />

— Difícil nada, seu Jessé, é a realidade. Tá to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sumi<strong>do</strong>, escondi<strong>do</strong> dentro de<br />

casa. Se a energia e os telefones não voltarem, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> vai ficar <strong>do</strong>i<strong>do</strong>.<br />

Jessé e Ludmyla trocaram um olhar rápi<strong>do</strong>. Eles estavam em sintonia. Sabiam o que o<br />

outro estava pensan<strong>do</strong>. Era o som <strong>do</strong> coração acelera<strong>do</strong> <strong>do</strong> porteiro que batia alto em<br />

seus ouvi<strong>do</strong>s. Um cheiro bom de me<strong>do</strong> aflorava na pele <strong>do</strong> homem notan<strong>do</strong> o olhar<br />

demora<strong>do</strong> da mora<strong>do</strong>ra pálida.<br />

— E os gritos, então? Vocês já escutaram um? O cabra tá aqui para<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> de<br />

repente, um grito vem <strong>do</strong> nada de qualquer canto.<br />

Jessé sentiu sua gengiva formigar levemente e uma <strong>do</strong>r suave na arcada dentária

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!