19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

— Vai jogar praga na sua mãe! — irritou-se Ceci.<br />

O leão de chácara foi até o balcão <strong>do</strong> bar e apanhou o aparelho telefônico. Digitou o<br />

número da emergência e estranhou a demora no atendimento. Não tinha caí<strong>do</strong> na fila de<br />

espera, o que já seria surpresa o suficiente, mas a ligação nem chamava. Desligou e<br />

tornou a ligar. Mu<strong>do</strong>, sem linha.<br />

— Os telefones não estão funcionan<strong>do</strong>, não. Nem rádio nem TV — disse Beto, o<br />

barman.<br />

— Pensei que fosse só o celular. Nem tentei o meu.<br />

— Pois é, não é só aqui, não. A cidade toda tá assim desde ontem de manhã. Não<br />

ouviu nada disso, não?<br />

— Ouvi nada. Ontem eu saí daqui e fui direto pro banco. Fiquei lá esperan<strong>do</strong>. Nem<br />

<strong>do</strong>rmi. Igual ao Quero-quero no quarto da Ceci. O velho apagou e precisamos de uma<br />

ambulância.<br />

— O Carmo da Saúde tava aí agora mesmo. Vira e mexe ele vem com a ambulância<br />

da prefeitura pra cá.<br />

— Ele já saiu. Eu estava lá embaixo e até brinquei com ele.<br />

— Esse negócio de celular não funcionar tá dan<strong>do</strong> até prejuízo, já.<br />

— É? Por quê?<br />

— Um caboclo tava aqui agora mesmo reclaman<strong>do</strong> com o amigo, foram embora<br />

porque não conseguiram ligar pra casa para dar uma desculpa esfarrapada <strong>do</strong> celular,<br />

nem daqui nem lá debaixo, <strong>do</strong> orelhão.<br />

— Que coisa — murmurou Amintas, desaponta<strong>do</strong>. — Bem, o morto não pode ficar<br />

lá no quarto.<br />

— Vixe! Morreu mesmo?<br />

— Não. Tô tiran<strong>do</strong> onda. Serviu muito o cliente da Ceci?<br />

Beto puxou um papel na prancheta. O número da Ceci era setenta e cinco. Torceu o<br />

lábio.<br />

— Ele já veio aqui antes e bebeu muito mais que isso. Hoje foram três <strong>do</strong>ses de<br />

uísque, e só. A Ceci tomou um Campari.<br />

— Bem. Deixa eu correr com o homem, porque não quero defunto aqui dentro. Se<br />

ficar esperan<strong>do</strong> esses telefones voltarem à ativa, podemos já ir arranjan<strong>do</strong> a missa de<br />

sétimo dia por aqui mesmo<br />

— Falta de padre não vai ter. Hahaha!<br />

Em cinco minutos, com uma maca improvisada com o tampo da mesa <strong>do</strong> refeitório<br />

das garotas, o homem apaga<strong>do</strong> foi removi<strong>do</strong> pelos fun<strong>do</strong>s e coloca<strong>do</strong> senta<strong>do</strong> no banco<br />

da frente <strong>do</strong> Chevette <strong>do</strong> Amintas. O hospital ficava perto e, mesmo que o cliente

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!