19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

gente a<strong>do</strong>rmecida ao mesmo tempo é inédito. E existe um outro temor.<br />

Como a médica se calou, Mallory tirou os olhos <strong>do</strong> vidro da UTI e encarou-a.<br />

— Ao que tu<strong>do</strong> indica, essas pessoas logo vão acordar novamente. A <strong>do</strong>utora Suzana<br />

já encarregou o <strong>do</strong>utor Elias de estudar as pessoas que despertam. Oito despertaram até a<br />

hora <strong>do</strong> almoço.<br />

— Não entendi o temor. Isso parece bom.<br />

— Sim. Mas alguns desses pacientes que despertam desse sono voltam com um tipo<br />

de comportamento anômalo.<br />

Mallory segurou as pranchetas contra o peito e continuou encaran<strong>do</strong> a médica.<br />

— Não ouviu falar disso ainda?<br />

— Não, <strong>do</strong>utora Ana.<br />

A médica de cabelos louro-acinzenta<strong>do</strong>s passou os de<strong>do</strong>s pelos fios lisos de sua cabeça<br />

e suspirou antes de falar.<br />

— Como eu disse, tu<strong>do</strong> indica que em pouco tempo to<strong>do</strong>s voltarão ao normal, mas...<br />

— Mas...<br />

— Algumas dessas pessoas acordam... Perturbadas, Mallory. Perigosas — resmungou<br />

a médica, levantan<strong>do</strong>-se e paran<strong>do</strong> em frente ao carrinho da enfermagem, apanhan<strong>do</strong> um<br />

par de luvas de látex.<br />

Mallory sentiu um frio na barriga ao ouvir o “perigosas”. O que a <strong>do</strong>utora Ana<br />

queria dizer com aquilo?<br />

— Duas chamaram mais a atenção. Acordaram completamente transtornadas, não<br />

reconheciam seus parentes, estavam fora de controle. Uma foi sedada antes de deixar o<br />

quarto, mas precisou ser contida por cinco enfermeiros.<br />

— E a outra?<br />

— A segunda pessoa era uma senhora de setenta e cinco anos. Acor<strong>do</strong>u tão<br />

perturbada que mordeu a própria neta, no pescoço. A coitada precisou até de sutura.<br />

Uma loucura que ainda não entendemos. É disso que temos me<strong>do</strong>.<br />

Mallory sentiu um frio na espinha. Uma imagem a<strong>do</strong>rmecida em sua mente voltou<br />

com tu<strong>do</strong> nessa hora, eriçan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os pelos de seus braços e nuca. Lembrou-se de seu<br />

Rusty. Um cachorro vira-lata de pelo preto e vermelho, seu xodó da infância, amigo de<br />

todas as horas e de toda a molecada da pequena vila. O cachorro corria com ela e os<br />

amigos pelas ruas de chão vermelho de Bom Futuro e se virava nas cheias <strong>do</strong> rio,<br />

parecen<strong>do</strong> um sagui ao andar sobre as fiadas e as palafitas de madeira entre as casas.<br />

Rusty tinha a<strong>do</strong>eci<strong>do</strong>, e to<strong>do</strong>s diziam que era raiva. De uma hora para a outra ela passou<br />

a se esconder embaixo da casa de madeira, fugin<strong>do</strong> da luz, fugin<strong>do</strong> das pessoas. Dias<br />

depois Rusty explodiu em violência, atacan<strong>do</strong> qualquer pessoa que chegasse perto.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!