19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

— Não, solda<strong>do</strong>, vamos juntos, em formação. Prometo que vamos direto para o<br />

abrigo <strong>do</strong> bebê assim que descobrirmos o que está acontecen<strong>do</strong> aqui.<br />

Almeida já tinha ativa<strong>do</strong> a visão noturna de seu equipamento e via corpos corren<strong>do</strong><br />

pelo saguão <strong>do</strong> prédio 2.<br />

— Temos uma porção deles se mexen<strong>do</strong> no térreo, rapazes. Disparem ao meu<br />

coman<strong>do</strong>.<br />

Raquel encostou a mão na porta, que abriu sem oferecer resistência alguma. A<br />

vampira, mesmo sem precisar respirar, tomada pela emoção e expectativa, estava<br />

ofegante. Não era um quarto. Era um salão amplo, com coisa de cem metros quadra<strong>do</strong>s.<br />

Deixou seus olhos brilharem vermelhos para vencer a escuridão e, ao fazê-lo, ouviu<br />

gritinhos e choro vin<strong>do</strong>s lá de dentro. Dezenas de senhoras estavam ali, choramingan<strong>do</strong>,<br />

cuidan<strong>do</strong> de gente a<strong>do</strong>rmecida que se esparramava pelo chão. Ali era um tipo de<br />

<strong>do</strong>rmitório imenso, organiza<strong>do</strong> para proteger aqueles que tinham si<strong>do</strong> ceifa<strong>do</strong>s pelo<br />

estranho sono na noite em que tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u. As mulheres tinham terços e crucifixos nas<br />

mãos e ficaram imóveis assim que ela entrou, fazen<strong>do</strong> suas botas estalarem contra o chão<br />

liso. A luz da vela tremeluzia no final da sala; a enfermeira, com Breno no colo, tremia.<br />

Raquel an<strong>do</strong>u em direção a ela, com a boca um pouco aberta, com os olhos suplicantes<br />

de expectativa, enfeitiçada, parecen<strong>do</strong> um demônio, de tão pálida. Então Raquel<br />

começou a tremer ao tentar conter o poderoso impulso de voar até Breno e arrancar-lhe<br />

da enfermeira. Começou a tremer porque não tinha mais controle sobre sua emoção. Ao<br />

la<strong>do</strong> de Breno, reconheceu, por conta <strong>do</strong> que suplantava o me<strong>do</strong>, o delicioso cheiro de<br />

Pedro. O filho estava numa cama hospitalar larga, imóvel, de olhos fecha<strong>do</strong>s, com a<br />

cabeça enrolada em grossas faixas salpicadas de sangue. Seu peito subia levemente, quase<br />

imperceptível, mas subia e depois descia. Raquel levou a mão à boca e desejou que seus<br />

dentes imensos ficassem normais. Não queria que os filhos a vissem assim, uma mortaviva,<br />

um monstro. Os dentes continuaram pontiagu<strong>do</strong>s, contu<strong>do</strong>, pôde fechar a boca,<br />

onde eles criavam duas discretas marcas nos lábios inferiores. Melhor assim. Seus olhos<br />

ainda estavam em brasa e assusta<strong>do</strong>res, posto que para onde ela olhava as pessoas se<br />

encolhiam e faziam o sinal da cruz. Tornou a olhar para o leito de Pedro. Uma menina<br />

segurava a mão de seu filho. Três tiros de fuzil ribombaram lá fora, desvian<strong>do</strong> o olhar de<br />

Raquel para a janela à sua direita. Ela podia ver solda<strong>do</strong>s corren<strong>do</strong> através <strong>do</strong> grande<br />

pátio que unia os caminhos entre os prédios. Precisava agir rápi<strong>do</strong>.<br />

Breno, no chão e com a cabeça afundada na barriga da enfermeira, olhou para trás.<br />

Os olhos de Raquel, por instinto, se apagaram imediatamente. A vampira partilhava com<br />

os humanos um pouco da escuridão, mas ainda assim podia enxergar bastante ali dentro.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!