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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— Atiravam?<br />

— Sim. Eram muitos, estavam derruban<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os solda<strong>do</strong>s. Meu cavalo empinou e<br />

eu caí sobre o meu braço, baten<strong>do</strong> na guia. Foi nessa hora que eu quebrei. Não sei como<br />

eles não me pegaram.<br />

— E os seus amigos?<br />

— Estão mortos.<br />

Liege pôs a mão sobre os olhos, a médica tremia. A pressão de um paciente com um<br />

braço quebra<strong>do</strong> numa sala escura era fácil. Difícil era aceitar que aquilo tu<strong>do</strong> estava<br />

acontecen<strong>do</strong>. A energia faltan<strong>do</strong> enquanto um monte de dementes atacavam uns aos<br />

outros a dentadas.<br />

— Eles estão toman<strong>do</strong> o sangue das pessoas, <strong>do</strong>utora Liege. Estão beben<strong>do</strong> o sangue<br />

— repetiu o enfermeiro.<br />

— Doutora, faz essa <strong>do</strong>r parar, pelo amor de Deus.<br />

Liege passou a luz sobre o braço feri<strong>do</strong>. A pele agora estava tão inchada que brilhava<br />

com a aproximação da lanterna improvisada.<br />

— Alexandre, vou precisar de gesso e anestesia. Sabe se tem alguma coisa aqui em<br />

cima?<br />

O enfermeiro ficou respiran<strong>do</strong> profundamente por alguns segun<strong>do</strong>s, o peito subin<strong>do</strong><br />

e descen<strong>do</strong>, recosta<strong>do</strong> à parede, ouvin<strong>do</strong> os gritos que vinham lá de fora.<br />

— Temos que ir até o pronto-socorro, <strong>do</strong>utora.<br />

— Meu Deus, Alexandre, tem que ter material de atendimento aqui em algum lugar!<br />

Até o PS são <strong>do</strong>is andares, nessa escuridão e com essa gente louca à solta...<br />

— A sala <strong>do</strong> Pra<strong>do</strong>. Pode ter gesso. Mas não sei se tem anestesia.<br />

Liege passou a mão pela cabeça. O homem era forte, capaz de aguentar, mas homens<br />

eram sempre mais reclamões que mulheres dentro <strong>do</strong> hospital. Precisava medicá-lo<br />

também. Ele tinha que tomar um antibiótico e um anti-inflamatório. A <strong>do</strong>r se tornaria<br />

insuportável, mesmo com a imobilização.<br />

— Vamos para o PS então — disse a médica. — É o melhor. Ele precisa ser trata<strong>do</strong>.<br />

Só gesso não vai resolver o problema dele.<br />

— Ai, <strong>do</strong>utora. E se aquelas pessoas estiverem no corre<strong>do</strong>r ainda, com os olhos<br />

vermelhos?<br />

— Você já atirou alguma vez na vida, enfermeiro?<br />

Alexandre olhou para Benício, que tirava a pistola <strong>do</strong> coldre.<br />

— Tem que soltar ela <strong>do</strong> cabo de proteção.<br />

— Eu... Eu nunca atirei.<br />

— Nesse caso, melhor eu continuar com ela. Pega meu cassetete.

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