19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

trabalho, muito mais trabalho. Uma breve luta para atiçar seu desejo de tomar-lhe a vida.<br />

Agora, uma noite depois <strong>do</strong> encontro com a morte e o feitiço de vida, ela era mais forte,<br />

mais forte que um homem, mais forte que <strong>do</strong>is. O primeiro disparo de arma de fogo<br />

acertou seu ombro, e o segun<strong>do</strong> fez uma bala entrar em seu ab<strong>do</strong>me. Ela gritou, tá, <strong>do</strong>eu<br />

para valer. Foi ótimo o agente Federal e o penitenciário terem atira<strong>do</strong>. Eles ficaram<br />

parvos um instante, sem nada entender, olhan<strong>do</strong> para ela caída e, quan<strong>do</strong> o agente<br />

penitenciário chegou bem perto, ela saltou e agarrou sua cabeça, giran<strong>do</strong>-a com toda a<br />

força, fazen<strong>do</strong> um barulho de ossos desloca<strong>do</strong>s e esmigalha<strong>do</strong>s encher o recinto. Ela agiu<br />

com muita naturalidade, como se ela sempre tivesse feito aquilo. Parvo continuou<br />

Magalhães, por um breve segun<strong>do</strong>, olhan<strong>do</strong> o agente penitenciário cair morto, com os<br />

olhos abertos e congela<strong>do</strong>s naquele esgar de surpresa, fazen<strong>do</strong> tilintar um molho de<br />

chaves. Raquel apanhou as chaves e olhou para a porta amassada da cela nove.<br />

Levantan<strong>do</strong>-se devagar ela sentia o corpo inteiro vibrar, tremer, filtran<strong>do</strong> o perfume <strong>do</strong><br />

sangue vivo aos seus pés e deixan<strong>do</strong> entrar pelas narinas o cheiro dele, <strong>do</strong> Djalma, o Urso<br />

Branco, o assassino de seu mari<strong>do</strong>, o homem que tinha manda<strong>do</strong> matar seus filhos, bem<br />

ali, a uma porta de distância. Os gritos de protesto <strong>do</strong>s detentos <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r<br />

preencheriam a trilha sonora daquela morte. Raquel fez deslizar a vigia da porta. O<br />

cheiro <strong>do</strong> maldito chegou mais forte. Ela enfiou a chave na tranca, sentin<strong>do</strong> cada mola<br />

<strong>do</strong> segre<strong>do</strong> provocar uma suave resistência, uma eletricidade, algo quase erótico se<br />

esparramou por seu corpo de morta-viva quan<strong>do</strong> ela girou a chave na fechadura. Um<br />

clique metálico estalou alto, entran<strong>do</strong> pelo seu ouvi<strong>do</strong> como os sussurros sacanas de um<br />

amante que promete uma onda de prazer em um instante. Ela empurrou a porta, pronta<br />

para voar para cima de Djalma assim que pusesse os olhos nele. Faria aquele porco<br />

sangrar e chorar antes de arrancar dele o espírito e esmagar o seu coração. Ele saberia<br />

que era ela, a promotora, a sua inimiga, que tinha volta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mortos com um único<br />

propósito. Matá-lo. Porém, assim que a porta revelou a pequena cela, o brilho de ódio<br />

nos olhos da vampira arrefeceram. Djalma estava deita<strong>do</strong>, de olhos fecha<strong>do</strong>s, como<br />

morto, jazen<strong>do</strong> sobre um catre de cela, cela imunda e escura, digna de um merda como<br />

aquele. Raquel voou para o la<strong>do</strong> <strong>do</strong> bandi<strong>do</strong> e colocou a mão em sua garganta,<br />

suspiran<strong>do</strong> aliviada. O maldito ainda estava vivo. Vivo para ser morto por ela. Esperava<br />

que ele despertasse com o toque em sua garganta; contu<strong>do</strong>, nada aconteceu. O homem<br />

continuava <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>. Raquel tinha visto gente a<strong>do</strong>rmecida sen<strong>do</strong> carregada pelas ruas.<br />

Algo tinha aconteci<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong>, transforman<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> e destruin<strong>do</strong> as certezas,<br />

inauguran<strong>do</strong> ruínas novas, prontinhas para se deteriorar. Desferiu uma bofetada de mão<br />

cheia, fazen<strong>do</strong> a cabeça <strong>do</strong> homem pender para o la<strong>do</strong> <strong>do</strong> catre, mas sem que alteração<br />

alguma fosse captada em sua face. Djalma estava afunda<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> de Morfeu, onde

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!