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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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se esperava mais melhora alguma, aparentemente, estão se curan<strong>do</strong> sozinhos. As notícias<br />

<strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong> Câncer são ainda melhores.<br />

— Francamente, não sei o que pensar. É um milagre. Um milagre que se abateu sobre<br />

centenas de pacientes nas UTIs, mas o preço para esse milagre acontecer foi muito alto. A<br />

cidade está simplesmente destruída.<br />

— Nesse momento não tenho nenhum paciente em ventilação mecânica, estão<br />

orienta<strong>do</strong>s, alguns ainda fracos e com os membros atrofia<strong>do</strong>s. Meus <strong>do</strong>is queima<strong>do</strong>s que<br />

sobraram aqui sentem <strong>do</strong>r, o que é perfeitamente normal, e estou somente cuidan<strong>do</strong> da<br />

analgesia deles. A única queixa que tenho hoje é que, até agora, não trouxeram<br />

alimentação para metade deles. Ontem dei alta para <strong>do</strong>is pacientes, hoje tenho oito<br />

interna<strong>do</strong>s aqui na UTI.<br />

— E você, querida? Como está lidan<strong>do</strong> com tu<strong>do</strong> isso? Por que não está em casa?<br />

— Ai, <strong>do</strong>utora. Pra ser sincera estou bastante cansada e muito assustada. Só não estou<br />

em casa porque não tem ninguém lá. Meus pais estão num cruzeiro, a última vez que<br />

falei com eles estavam chegan<strong>do</strong> a Curaçao. Espero que essa confusão toda não tenha se<br />

propaga<strong>do</strong> até lá.<br />

— Você vai com a gente para o Hospital Geral de São Vítor?<br />

Célia suspirou e olhou para a diretora longamente. No final fez que sim com a<br />

cabeça.<br />

— Vou. Está to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> in<strong>do</strong>. Eu moro no Morumbi, num con<strong>do</strong>mínio com três<br />

edifícios imensos. Quantas criaturas perturbadas dessas não estarão por lá quan<strong>do</strong><br />

anoitecer? Acho que não vai ser simplesmente trancan<strong>do</strong> a porta que vou me livrar deles.<br />

E se um deles conseguir entrar no meu apartamento? É só ligar para a polícia? Como?<br />

Suzana passou a mão no rosto de Célia e deu um beijo em sua bochecha. Abraçou a<br />

médica e tornou a olhar para dentro da UTI.<br />

— To<strong>do</strong>s os pacientes capazes devem ser leva<strong>do</strong>s para o campo de futebol da<br />

faculdade agora. Se precisar de alguma coisa, os seguranças que sobraram aqui estão<br />

organizan<strong>do</strong> equipes de voluntários para ajudarem nessa remoção.<br />

— Acho que só vou precisar de transporte especial para os três queima<strong>do</strong>s. Só. Eles<br />

não conseguem flexionar os membros e ainda sentem muita <strong>do</strong>r com o movimento.<br />

Ambulância comum para os três está de bom tamanho.<br />

— Vou providenciar, querida.<br />

Suzana voltou até a escadaria e começou a descer. Não sentia as costumeiras <strong>do</strong>res nas<br />

pernas que a pegavam quan<strong>do</strong> tinha que subir ou descer muitos lances de escada. Nem<br />

mesmo a insistente falta de ar que a vinha apanhan<strong>do</strong> na hora <strong>do</strong>s esforços.

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