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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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tinha na cintura não seria problema. Contu<strong>do</strong>, preferiu continuar caminhan<strong>do</strong>. A<br />

“pastelaria” ficava naquele mesmo quarteirão, e não correria o risco de deixar de<br />

apanhar aqueles que tinham arquiteta<strong>do</strong> sua morte e a de seus filhos. A luz da rua piscou<br />

duas vezes, e a vampira ouviu a explosão de um transforma<strong>do</strong>r algumas ruas para cima.<br />

O quarteirão continuava energiza<strong>do</strong>, mas os gritos que sucederam a explosão davam a<br />

ideia de que a eletricidade tinha acaba<strong>do</strong> perto dali. As pessoas estavam com me<strong>do</strong>. Na<br />

opinião dela, tinham toda a razão de estar. Nenhum daqueles seres que caminhavam na<br />

noite trazia boas-novas em seu interior. Eles traziam apenas a sede e a vontade de roubar<br />

a vida de quem surgisse à frente. Raquel estacou em frente à casa. Reconhecia a fachada<br />

pela foto anexada ao processo. Havia luz lá dentro. E silêncio. O sobra<strong>do</strong> era guarneci<strong>do</strong><br />

por muros altos e portões sóli<strong>do</strong>s. Raquel olhou pela fresta <strong>do</strong> portão. Uma sombra<br />

passava <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> da cortina da grande janela da frente, mas ninguém vigiava a frente<br />

da casa. Só havia um jeito de fazê-lo. Raquel espiou a rua. Dois vampiros tinham<br />

chega<strong>do</strong> na esquina e andavam na porção mais escura da calçada, descen<strong>do</strong> em direção à<br />

Marginal Pinheiros. Raquel observou o muro, e algo dentro dela logo fez o que ela só<br />

imaginava fazer. Seus músculos eram agora encanta<strong>do</strong>s, e seu corpo parecia não ter peso.<br />

Agarran<strong>do</strong>-se ao portão conseguiu escalá-lo como se fosse uma aranha, um bicho feito<br />

para aquilo, subir, pular e conquistar. De cima <strong>do</strong> muro olhou para a janela da frente<br />

mais uma vez. A sombra andava dentro da casa. Agora as vozes chegavam ao seu ouvi<strong>do</strong>,<br />

e uma em especial pareceu-lhe música. Era Adilson. O homem que matara seus filhos.<br />

Adilson estava nervoso com a demora <strong>do</strong> Comandante em aparecer com seu dinheiro.<br />

Já ia fazer vinte e quatro horas que estavam enfia<strong>do</strong>s na pastelaria, esperan<strong>do</strong>. Os rádios<br />

não funcionavam, nem a merda <strong>do</strong> telefone, deixan<strong>do</strong>-os completamente à deriva.<br />

Ninguém sabia de nada. Cabeção estava andan<strong>do</strong> pela sala em círculos havia uma hora,<br />

parecen<strong>do</strong> uma barata tonta. Adilson até pensou em vazar, mas queria o dinheiro.<br />

Precisava <strong>do</strong> dinheiro vivo que o Comandante prometera para sua quadrilha de<br />

assaltantes de banco. Até onde os bandi<strong>do</strong>s sabiam, ele tinha cumpri<strong>do</strong> a sua parte no<br />

trato. Pelo menos isso era o la<strong>do</strong> bom de os celulares e a TV estarem fora <strong>do</strong> ar.<br />

Ninguém ia saber a verdadeira versão da história, que tinha deixa<strong>do</strong> as crianças para trás,<br />

com ao menos um filho da urubuzona vivo. Não ia dar na TV que tinham encontra<strong>do</strong> o<br />

corpo <strong>do</strong> Carlão lá no acesso da ro<strong>do</strong>via. Nem mesmo a quizumba que tinham feito na<br />

casa da promotora seria noticiada. O lance era deitar a mão na grana, passar em casa para<br />

pegar a patroa e as crias e se pirulitar pelo mun<strong>do</strong>. O mun<strong>do</strong>. O mun<strong>do</strong> estava louco.<br />

Havia saí<strong>do</strong> duas vezes para buscar cigarro. Nem estava no barato de fumar, só queria<br />

respirar ar fresco, sair da frente <strong>do</strong> garoto que estava mais nervoso <strong>do</strong> que ele com o

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