19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— É o remédio. Já está começan<strong>do</strong> a fazer efeito — disse a jovem enfermeira Nádia.<br />

— Ela não pode <strong>do</strong>rmir agora.<br />

A velha chamou com uma voz rouca.<br />

— Espere! — gritou Cássio para a velha.<br />

O solda<strong>do</strong> Gabriel Ikeda caminhou até o portão, tentan<strong>do</strong> afastar a velha daquela<br />

cena. Notou que a mulher estava irritan<strong>do</strong> o sargento.<br />

— Alessandra, acorde. Alê, me diz onde eles estão, eu vim aqui para buscar vocês.<br />

De olhos fecha<strong>do</strong>s, ela ergueu as sobrancelhas e balançou a cabeça.<br />

— Eu não sei... Eu não sei, Cá. Ele nos levou para o esgoto. Eu fugi de lá.<br />

— Megan e Felipe estão nos esgotos?<br />

— Sim. Eu fugi de lá — resmungava a mulher, com voz fraca, quase inaudível agora.<br />

— Eles estão lá, <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>, esperan<strong>do</strong> a mamãe buscá-los.<br />

A confirmação caiu como uma bomba sobre Cássio, que se sentou sobre o chão<br />

molha<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> a mão à boca. Ele olhava para a frente, mas não via a irmã e os<br />

enfermeiros, via o rio Tietê coalha<strong>do</strong> de corpos boian<strong>do</strong>, de corpos que foram arrasta<strong>do</strong>s<br />

das galerias <strong>do</strong>s esgotos pelo turbilhão d’água que tinha se forma<strong>do</strong> com a inesperada<br />

chuva. Se eles estavam nos esgotos, tinham si<strong>do</strong> carrega<strong>do</strong>s pela água. Estavam afoga<strong>do</strong>s!<br />

Megan sabia nadar, mas, a<strong>do</strong>rmecida, ela não teria ti<strong>do</strong> a menor chance. Ikeda pousou a<br />

mão no ombro de Cássio, fazen<strong>do</strong>-o se levantar assusta<strong>do</strong>.<br />

— A velha quer falar com você, sargento!<br />

Cássio empurrou Ikeda contra o muro <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r.<br />

— Mande-a embora! Mande-a embora!<br />

— Calma, sargento, ela só quer...<br />

Cássio voltou a agarrar Ikeda pela gola <strong>do</strong> uniforme e jogou-o contra o muro mais<br />

uma vez.<br />

— Você está sur<strong>do</strong>?<br />

Um estali<strong>do</strong> metálico espocou acima <strong>do</strong> som da chuva. Castro tinha ergui<strong>do</strong> seu fuzil<br />

e o apontava para o sargento.<br />

— Calma, sargento. Nós só estamos aqui para ajudar.<br />

Cássio olhou e viu Castro e o tenente se aproximan<strong>do</strong> com as armas levantadas.<br />

— Amigo, eu sei que você está nervoso, mas solte o meu solda<strong>do</strong> agora.<br />

Cássio abriu as mãos, como se voltasse ao mun<strong>do</strong>. Ficou com as mãos abertas e para a<br />

frente.<br />

— Está mais calmo agora, sargento? — perguntou o tenente.<br />

— Sim. Sim! — gritou na segunda vez. — Meus sobrinhos, eu acabei de saber...<br />

— É isso que quero falar, sargento. A velha no portão.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!