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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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chance de lutar. Outra observação nutria a dualidade de emoções. Ver aquele comboio<br />

de sete ônibus de viagem evocava a imagem de uma grande roleta de parque de diversões.<br />

Quem seria premia<strong>do</strong> com a passagem na primeira viagem? Ainda que os ônibus fossem<br />

capazes de ir e voltar sem se preocupar com combustível para a jornada, sem nenhum<br />

outro contratempo, seriam três horas in<strong>do</strong> e mais três horas voltan<strong>do</strong>. Caso conseguissem<br />

a façanha de sair dali às cinco da tarde, só voltariam às onze da noite. Quanto mais<br />

calculava, mais agonia<strong>do</strong> ficava. Sete daqueles ônibus garantiriam trezentos e cinquenta<br />

lugares, com conforto. Espremen<strong>do</strong>, talvez um pouco mais de quinhentos lugares.<br />

Precisariam de três viagens para levar to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

— E então, <strong>do</strong>utor Elias? — perguntou Rafael, um enfermeiro baixinho, troncu<strong>do</strong> e<br />

careca. — Como vai ser?<br />

O médico coçou a cabeça, a chave <strong>do</strong> carro na mão.<br />

— Vamos acomodar tantos quanto pudermos nos carros. Quem não couber na<br />

primeira leva, fica por aqui, esperan<strong>do</strong> a segunda.<br />

— Segunda viagem?<br />

— É, Rafael. Não vai caber to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> só nesses sete ônibus, não.<br />

Um ronco mais alto tomou a rua. Na pista da contramão vinham mais <strong>do</strong>is<br />

caminhões com emblemas da Polícia Militar e <strong>do</strong>is blinda<strong>do</strong>s Urutus.<br />

— Nossa! O que é aquilo ali, <strong>do</strong>utor? Tanque de guerra?<br />

Elias, boquiaberto, ergueu os ombros para o enfermeiro.<br />

Doutor Otávio parou ao la<strong>do</strong> de Elias e deu um tapinha no ombro <strong>do</strong> colega.<br />

— Como é que você chamou ele mesmo? — O médico fez uma pausa. —<br />

Sargentinho de merda?<br />

— Não. PM de merda. Foi disso que eu o chamei — murmurou Elias, contraria<strong>do</strong>.<br />

Otávio sorriu e seguiu em frente, em direção aos caminhões e aos <strong>do</strong>is blinda<strong>do</strong>s que<br />

tomavam a rua.<br />

— Doutor? — interrogou o enfermeiro, ainda esperan<strong>do</strong> instruções.<br />

— Rafael, tenho uma missão muito importante pra você: mantenha os prontuários<br />

<strong>do</strong>s pacientes em local seguro e não os esqueça aqui no HC. Não sabemos se voltaremos<br />

um dia para esse prédio, muito menos como serão as coisas daqui pra frente. Um pouco<br />

de organização não vai fazer mal a ninguém.<br />

O enfermeiro baixinho balançou a cabeça positivamente.<br />

— Como dizem nos filmes, <strong>do</strong>utor, missão dada, missão cumprida.

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