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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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mimada!<br />

— Everal<strong>do</strong>!<br />

Ouviu um estron<strong>do</strong> a distância, como se tivesse vin<strong>do</strong> de fora da usina. O rapaz<br />

estava tão irrita<strong>do</strong> com a esposa que não deu bola.<br />

— Pede a droga desse dinheiro e vai sozinha com a Dora e o Carlito. E aproveita, na<br />

volta, para vocês to<strong>do</strong>s irem para o inferno e me darem um sossego!<br />

Everal<strong>do</strong> não tinha nota<strong>do</strong>, mas já estava de pé, toma<strong>do</strong> por um nervosismo<br />

repentino, com a respiração e os batimentos cardíacos acelera<strong>do</strong>s. Isis tinha aquela<br />

capacidade incrível de irritá-lo, um <strong>do</strong>m natural, intrínseco aos bons casais. Contu<strong>do</strong>, o<br />

silêncio que se seguiu ao telefone arrefeceu sua fúria. Ela tinha desliga<strong>do</strong> na sua cara. Ele<br />

tinha si<strong>do</strong> um cavalo, reconhecia isso de imediato. Ficava bravo com assunto de grana.<br />

Ela sabia bem que ele não era nenhum marajá e não sobrava muito dinheiro no fim <strong>do</strong><br />

mês. O pouco que ele conseguia salvar da sanha consumi<strong>do</strong>ra da esposa ia para uma<br />

poupança destinada a comprar uma lancha. Nem era daquelas grandes, de magnatas. A<br />

que ele queria tinha 19 pés e meio, e um motor de 90 hp já estaria de bom tamanho para<br />

os seus sonhos de lobo-de-água-<strong>do</strong>ce. Um barquinho, esse era o seu sonho. Isis não<br />

precisava ter desliga<strong>do</strong> assim, na sua cara. Ela sabia que os seus destemperos tinham<br />

endereço certo em seu cérebro e duravam segun<strong>do</strong>s. Se ela tivesse fica<strong>do</strong> na linha, estaria<br />

agora ouvin<strong>do</strong> alguma adulação ou contorno que ele sempre dava na conversa para<br />

agradar a esposa e minimizar os efeitos de seus arroubos de intransigência. Isis era<br />

mimada demais, filha de industriais da região, acostumada a mor<strong>do</strong>mias e regalias com as<br />

quais ele não podia arcar e que a sogra a<strong>do</strong>rava garantir com seu talão de cheques de<br />

<strong>do</strong>n<strong>do</strong>ca rica. Everal<strong>do</strong> chegou a digitar os primeiros números <strong>do</strong> celular da esposa,<br />

quan<strong>do</strong> seus olhos foram para os terminais. Finalmente sain<strong>do</strong> de um transe e<br />

entenden<strong>do</strong> que os bips de alerta que escapavam de sua máquina eram a razão <strong>do</strong> seu<br />

trabalho. Algo ia erra<strong>do</strong> na usina de Itaipu. Lembrou-se de imediato <strong>do</strong> grande estron<strong>do</strong><br />

que ouviu. Sentou-se em frente ao monitor e começou a clicar nos avisos e a a<strong>do</strong>tar os<br />

protocolos exigi<strong>do</strong>s para cada um deles. Olhou para o monitor <strong>do</strong> Medeiros. Parecia<br />

uma árvore de Natal, piscan<strong>do</strong>. Foi então que um arrepio percorreu sua espinha. O tal<br />

<strong>do</strong> barulho que tinha ouvi<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong>s atrás, parecera uma explosão. Acontece que<br />

estava encrava<strong>do</strong> no coração de milhões de toneladas de concreto da usina de Itaipu.<br />

Aquele barulho teria si<strong>do</strong> lá dentro? Logo os telefones da sua mesa iriam disparar com<br />

chefes de seções ou engenheiros de linha tentan<strong>do</strong> entender o que estava acontecen<strong>do</strong>. O<br />

que estava acontecen<strong>do</strong> é que, se em menos de um minuto ele não desse conta de to<strong>do</strong>s<br />

aqueles alertas e remanejamentos, Itaipu iria parar e metade <strong>do</strong> Brasil ficaria às escuras.<br />

Deu um sorriso de canto de boca. Itaipu não ia parar no seu turno. Ele tinha si<strong>do</strong>

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