19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tremiam ou algum músculo na face ficava tilintan<strong>do</strong>. Estresse. Recolocou a folha sobre o<br />

tampo da mesa e deu um soco na madeira. Não conseguiu conter os soluços que subiram<br />

pela garganta, culminan<strong>do</strong> com algumas lágrimas que rolaram <strong>do</strong>s olhos. Os sobrinhos...<br />

Tinham se torna<strong>do</strong> aquela coisa. Eles também despertariam com sede e recusan<strong>do</strong> o sol.<br />

Ela deveria ter escrito para qual hospital tinha i<strong>do</strong>! Como reuniria a família agora?<br />

Respirou fun<strong>do</strong>. Também, não era para menos não ter deixa<strong>do</strong> mais detalhes. Conhecia<br />

bem a irmã, era baladeira, avoada, cheia de pilha e brincalhona. Agora, queria vê-la<br />

desesperada e inepta, era só acontecer alguma coisa com as crianças, febre alta, falta de<br />

ar, uma internação para ficar em observação, qualquer coisa que acontecesse com os<br />

filhos a deixava exatamente incapaz de pensar de forma prática. Cássio suspirou. Não era<br />

impossível achá-la. Qualquer mãe que encontrasse seus filhos desacorda<strong>do</strong>s correria para<br />

o hospital mais próximo. E o hospital mais próximo era justamente o da Polícia Militar,<br />

a poucas quadras da casa. Outra opção seria o hospital <strong>do</strong> convênio, para onde ele<br />

mesmo já tinha leva<strong>do</strong> Megan duas vezes por causa de garganta inflamada. Pegou o<br />

mesmo papel e a caneta e escreveu outro bilhete. “Saí para procurar vocês. Fique dentro<br />

de casa. Tranque a porta e não abra para ninguém. Você sabe onde está meu alicate,<br />

deixe-o com você. Defenda-se”. Bastou o tempo de Cássio escrever o bilhete, senta<strong>do</strong><br />

naquela cadeira, para seu sangue esfriar e o cansaço de toda a jornada <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> dia fazer<br />

suas pernas pesarem cem toneladas cada uma. Arrastou-se até a sala e ligou a TV. Nada.<br />

Uma onda de chuviscos brancos e ruí<strong>do</strong> tomou o ambiente. O policial ficou para<strong>do</strong>,<br />

olhan<strong>do</strong> para aquilo até desabar no sofá de três lugares. Talvez a TV voltasse a funcionar<br />

e ele estaria ali, olhan<strong>do</strong> para ela e encontran<strong>do</strong> um rosto conheci<strong>do</strong> de um ou <strong>do</strong>is<br />

âncoras <strong>do</strong>s telejornais. William Bonner, Leilane Neubarth, Boris Casoy, César Tralli,<br />

Carlos Nascimento, Datena, qualquer um deles, qualquer um mesmo, que aparecesse ali<br />

na telinha, dizen<strong>do</strong> que as coisas estavam voltan<strong>do</strong> ao normal, mesmo que ninguém<br />

soubesse explicar coisa nenhuma, mesmo que milhares de vidas tivessem si<strong>do</strong> perdidas, o<br />

simples fato de alguém conheci<strong>do</strong> surgir na tela e dizer que tu<strong>do</strong> ia ficar bem no fim das<br />

contas seria um alento incalculável. Cássio sentiu os músculos relaxarem e, atenden<strong>do</strong> ao<br />

pedi<strong>do</strong> da irmã, a<strong>do</strong>rmeceu enquanto rezava.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!