19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CAPÍTULO 24<br />

O ar da manhã tinha esfria<strong>do</strong>, o que era incomum naquela terra quente.<br />

Serpentean<strong>do</strong> com o Chevette pelas ruas, depois de deixar o Cigana, algo o deixou<br />

atônito, conforme se aproximava <strong>do</strong> centro da cidade. Fumaça negra. O centro estava em<br />

chamas, e os carros <strong>do</strong>s bombeiros não davam conta de tantos prédios e casas<br />

incandescentes. Belém ardia. Sentiu um frio na espinha, apanhou seu celular. Ainda sem<br />

sinal. Teimoso, teclou o atalho e viu a animação emitin<strong>do</strong> uma seta para o espaço... E<br />

nada. Mu<strong>do</strong>. Jogou o aparelho no banco <strong>do</strong> carona e pisou fun<strong>do</strong> no acelera<strong>do</strong>r. Sentiase<br />

aflito agora. O bairro onde morava numa casa alugada era distante <strong>do</strong> centro, para<br />

chegar pegava uma pista larga e de mão dupla, rodan<strong>do</strong> quinze minutos até adentrar a<br />

vizinhança. Queria correr para casa. Não era só a boa notícia que queria dar. Queria<br />

saber se a esposa e a mãe estavam bem e seguras no pequeno apartamento de sobreloja.<br />

Sabia que as duas não estariam no meio daquelas chamas, mas precisava vê-las. Parou o<br />

Chevette em frente à imobiliária onde compraria sua casa. Eles é que tinham prepara<strong>do</strong><br />

toda a papelada para o banco, sabiam cuidar dessas coisas burocráticas. Os portões<br />

estavam fecha<strong>do</strong>s, e as janelas também. Era só o que faltava. Se o incêndio <strong>do</strong> centro<br />

chegasse até aquela rua, podia comprometer a realização <strong>do</strong> seu sonho da casa própria.<br />

Deu partida no carro mais uma vez. Não ia esperar alguém aparecer. Se ficasse para<strong>do</strong><br />

mais um segun<strong>do</strong>, ali <strong>do</strong>rmiria. Estava cansa<strong>do</strong> e com sono. O melhor era seguir direto<br />

para casa. Fez to<strong>do</strong> o caminho olhan<strong>do</strong> pelo retrovisor e achan<strong>do</strong> cada vez mais<br />

inquietante aquele tanto de colunas negras que despontavam no horizonte, arranhan<strong>do</strong> o<br />

firmamento. O fogo estava fora de controle, só podia ser isso, e vinha daí aqueles<br />

problemas com as linhas de telefone e a televisão. Quanto às pessoas desacordadas, não<br />

fazia ideia. Vinculou o incêndio e a fumaça àquela perturbação. Pessoas com alergia a<br />

fumaça poderiam desmaiar mesmo estan<strong>do</strong> longe dela? Não sabia responder. Só entendia<br />

de bêba<strong>do</strong>s e de putas. Precisava formular alguma coisa na mente para que aquela série<br />

de episódios fizesse algum senti<strong>do</strong>. Levou o de<strong>do</strong> ao botão da rádio FM para tentar ouvir<br />

as notícias na emissora local. Nada, só chia<strong>do</strong>. Estava tu<strong>do</strong> fican<strong>do</strong> de ponta-cabeça, e<br />

aquela cisma desconfortável só fazia aumentar. Quan<strong>do</strong> entrou em seu bairro viu carros<br />

lota<strong>do</strong>s de bagagem e bugigangas para<strong>do</strong>s na frente de muitas casas. Em seus bagageiros<br />

iam televisores, trouxas amarradas com mantas velhas, gente desmaiada sen<strong>do</strong> carregada<br />

aqui e ali, um pandemônio. Parou o carro em frente à sua casa, que ficava no alto de um<br />

açougue, correu ligeiro pelo corre<strong>do</strong>r estreito, subiu as escadas e passou pelas duas portas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!