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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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— Promotora? — inquiriu uma voz vacilante.<br />

Raquel abriu um sorriso. Sim. Era ela. A promotora Raquel, ainda reconhecida<br />

mesmo sen<strong>do</strong> agora habitada por um monstro de coração morto movi<strong>do</strong> a vingança.<br />

— O Urso Branco ainda está no CDP?<br />

— Está sim, senhora, mas não é hora de visitas.<br />

Raquel se aproximou e reforçou seu sorriso para o homem.<br />

— Não vim visitá-lo, agente. Vim vê-lo por conta <strong>do</strong> desaparecimento de meus<br />

filhos.<br />

— Aguarde um instante, <strong>do</strong>utora. Estamos sem telefone e sem rádio. Eu vou chamar<br />

o agente que está cuidan<strong>do</strong> da custódia <strong>do</strong> detento.<br />

Cinco minutos mais tarde o agente penitenciário voltava, acompanha<strong>do</strong> de um<br />

homem com terno e gravata. Raquel o reconheceu. Era um <strong>do</strong>s membros de sua equipe<br />

de segurança pessoal, o agente Federal Magalhães.<br />

O homem estava com os olhos arregala<strong>do</strong>s, parecen<strong>do</strong> ver uma assombração; estava<br />

certo, mas ainda não sabia disso.<br />

— Promotora? Como...<br />

A frase ficou sem final. Ele parecia buscar outras palavras. A unidade <strong>do</strong> agente sênior<br />

Ricar<strong>do</strong> Flores tinha si<strong>do</strong> dizimada, e a promotora Raquel, dada como desaparecida.<br />

— Preciso levar a senhora daqui imediatamente, promotora. O Ricar<strong>do</strong> foi morto, e<br />

toda a sua unidade...<br />

— Irei com você, Magalhães, para onde você quiser, mas preciso saber se o Urso<br />

Branco ainda está aqui.<br />

O agente aquiesceu.<br />

— Preciso vê-lo. Ele está com meus filhos.<br />

Magalhães coçou a cabeça.<br />

— Ele está incomunicável desde a sentença, desde que saiu <strong>do</strong> fórum até aqui.<br />

— Só vou precisar de um minuto com ele, Magalhães. Só um minuto.<br />

O agente da Federal olhou para o homem no portão e terminou fazen<strong>do</strong> um sinal<br />

com a cabeça, e o segun<strong>do</strong> liberou a entrada da promotora.<br />

O porteiro deixou o agente e a promotora seguirem sozinhos até o prédio da cadeia.<br />

Magalhães, talvez atiça<strong>do</strong> pela surpresa, não parava de falar, enquanto Raquel apenas<br />

ouvia. Não só a voz e as lamentações repetidas <strong>do</strong> homem, mas ouvia. Ouvia a prisão de<br />

concreto, ouvia as vozes sussurradas que vinham das celas depois das antecâmaras. Ouvia<br />

a respiração de cada um <strong>do</strong>s encarcera<strong>do</strong>s e ouvia o sangue corren<strong>do</strong> em suas veias. Sentia<br />

o cheiro forte e poderoso daquele homem ao seu la<strong>do</strong>. Escutava seu coração dispara<strong>do</strong>,<br />

bombean<strong>do</strong> e bombean<strong>do</strong>. Ela poderia acabar com ele num segun<strong>do</strong>, empurran<strong>do</strong>-o

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