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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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Cássio abriu um sorriso.<br />

— Você caiu <strong>do</strong> céu, meu irmão.<br />

Caminharam dez metros e já estavam de frente para a moto de Fábio. Uma Kawasaki<br />

Ninja 650. Fábio tinha um capacete só, mas Cássio man<strong>do</strong>u ele tocar o barco. Nenhuma<br />

blitz iria parar os <strong>do</strong>is naquela manhã. Com certeza.<br />

Descen<strong>do</strong> de volta em direção à Marginal Tietê, seus olhos cravaram nos prédios <strong>do</strong><br />

outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio, o centro da cidade. Colunas negras, soman<strong>do</strong> dezenas, se erguiam a<br />

perder de vista, marcan<strong>do</strong> o horizonte. Tu<strong>do</strong> parecia piorar com o avançar das horas.<br />

Não demoraram para chegar até a Marginal, mas da Marginal em diante a coisa estava<br />

caótica. Centenas de carros aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s na pista local, travan<strong>do</strong> o acesso de outros<br />

veículos que viessem <strong>do</strong>s bairros. Numa luta inglória, Cássio viu <strong>do</strong>is guinchos da CET<br />

trabalhan<strong>do</strong>, aparentemente retiran<strong>do</strong> veículos da via e despachan<strong>do</strong>-os para onde<br />

atrapalhassem menos, na tentativa de recuperar a fluidez das marginais. As motocicletas<br />

conseguiam avançar aos poucos, ziguezaguean<strong>do</strong> entre os automóveis para<strong>do</strong>s. Na pista<br />

expressa os carros ainda conseguiam trafegar em velocidade reduzida. A maioria deles<br />

cheios de malas, como se as pessoas estivessem partin<strong>do</strong> num fim de semana de veraneio.<br />

Ainda era bem ce<strong>do</strong> e, ao que parecia, muito mais da metade <strong>do</strong> comércio estava com as<br />

portas cerradas. Procuran<strong>do</strong> no caminho, viu apenas <strong>do</strong>is postos de gasolina e uma<br />

padaria com fila na porta na descida <strong>do</strong> Tremembé até a Marginal. Nos <strong>do</strong>is postos, filas<br />

de veículos <strong>do</strong>bran<strong>do</strong> a esquina e cartazes anuncian<strong>do</strong> que só receberiam em dinheiro<br />

vivo. Aquilo já serviu para entender que nada tinha volta<strong>do</strong> a funcionar, e a situação da<br />

população só piorava.<br />

Quan<strong>do</strong> a moto atravessou a ponte sobre o rio, o cenário ganhou outra dimensão. As<br />

colunas negras, que agora se aproximavam, não vinham de amontoa<strong>do</strong>s de lixos<br />

queiman<strong>do</strong> descontroladamente. Vinham de prédios inteiros, arden<strong>do</strong>, sem receber<br />

auxílio algum no combate às chamas. Fábio parou a moto num cruzamento e apontou<br />

para o prédio.<br />

— Eu já vi.<br />

O rapaz tirou o capacete e virou-se para perguntar:<br />

— Cara! O que está acontecen<strong>do</strong>?<br />

— Esse negócio de telecomunicação pegou to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Sem rádio e telefone os<br />

bombeiros não conseguem chegar a tempo.<br />

— Que loucura, cara!<br />

— Os prédios residenciais ainda contam com os mora<strong>do</strong>res, que são proprietários <strong>do</strong>s<br />

apartamentos e lutam para proteger seu patrimônio. Agora, aqui no centro, a maioria<br />

desses prédios deve ser comercial. É um corre-corre pra to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s.

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