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A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

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assinou os papéis, mentin<strong>do</strong> que era maior, que tinham si<strong>do</strong> assalta<strong>do</strong>s, que Pedro tinha<br />

si<strong>do</strong> balea<strong>do</strong> e que seus <strong>do</strong>cumentos tinham si<strong>do</strong> rouba<strong>do</strong>s. Ela não soube o porquê da<br />

mentira, mas um alarme tinha toca<strong>do</strong> em sua cabeça. Enquanto não falasse com a mãe de<br />

Pedro, não falasse com um policial, achava melhor não deixar ninguém saben<strong>do</strong> que o<br />

garoto estava ali, vivo e vulnerável. Uma senhora ficou olhan<strong>do</strong> para ela enquanto<br />

passava as informações para a assistente social. A mulher a olhava de um jeito insistente,<br />

estranho, teve me<strong>do</strong> que estivesse ligada com o grupo que fizera aquilo a Pedro, então a<br />

ouviu também passar informações de seus <strong>do</strong>is filhos. Eles tinham a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>. Chiara<br />

tinha se afasta<strong>do</strong> daquela senhora, ainda com me<strong>do</strong> de que os bandi<strong>do</strong>s voltassem para<br />

terminar o serviço que o outro deixara para trás.<br />

Jéssica cutucou Chiara, que saiu de uma espécie de torpor induzi<strong>do</strong> pelas lembranças<br />

e voltou ao saguão lota<strong>do</strong>.<br />

— Chiara, meu, eu preciso ir — disse Jéssica, levantan<strong>do</strong> e se espreguiçan<strong>do</strong>.<br />

Chiara não sabia o que dizer. Ela era uma amiga ponta firme e seria impossível falar<br />

qualquer coisa para ela, pedir que ficasse, que não a deixasse sozinha com o pequeno<br />

Breno e o Pedro naquele esta<strong>do</strong>. Queria dizer que precisava de alguém ali caso um<br />

médico surgisse trazen<strong>do</strong> uma má notícia. Queria dizer que estava morren<strong>do</strong> de me<strong>do</strong>.<br />

No ombro de quem iria chorar? Como diria para o Breno uma coisa daquelas? No<br />

entanto, Chiara ficou calada e só balançou a cabeça, concordan<strong>do</strong>. Jéssica já tinha feito<br />

demais, tinha passa<strong>do</strong> com ela por tu<strong>do</strong> aquilo e sabia que os pais da amiga comeriam o<br />

fíga<strong>do</strong> dela viva assim que ela botasse os pés em casa.<br />

— Os telefones estão mu<strong>do</strong>s desde ontem à noite. Meu pai deve estar <strong>do</strong>idinho. Vai<br />

me cobrir de porrada se eu não aparecer em casa.<br />

Chiara não disse nada e só abraçou a amiga bem forte. As duas ficaram de pé e<br />

choraram diante <strong>do</strong>s olhos de to<strong>do</strong>s os que também esperavam notícias sobre seus<br />

parentes a<strong>do</strong>enta<strong>do</strong>s.<br />

— Você sabe pegar ônibus pra voltar para Alphaville?<br />

— Eu já voltei com os meninos uma vez. Quan<strong>do</strong> eles vieram jogar handebol no<br />

ginásio aqui atrás <strong>do</strong> hospital, a gente voltou de trem até Carapicuíba e lá pegamos um<br />

ônibus. A estação de trem é aqui pertinho <strong>do</strong> Regional, ouvi uma mulher falan<strong>do</strong> disso<br />

enquanto você estava <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>.<br />

— Você tem dinheiro?<br />

— Sempre saio com algum, né, amiga? Meu pai tá na fase das vacas gordas.<br />

— Seu pai sempre está na fase das vacas gordas — retrucou Chiara, secan<strong>do</strong> as<br />

lágrimas que desciam pelo rosto.<br />

As duas riram um pouco.

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