19.04.2013 Views

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

A Noite Maldita - Crônicas do Fim do Mundo - Multi Download

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tentan<strong>do</strong> acalmá-la com frases repetidas e de efeito, acarician<strong>do</strong> seus braços. O ritmo da<br />

respiração parecia ter diminuí<strong>do</strong> o que, para ele, parecia um bom sinal. Cássio abaixouse<br />

ao la<strong>do</strong> da irmã, encostan<strong>do</strong> um joelho no chão.<br />

— Minha irmã... — murmurou.<br />

Os olhos de Alessandra voltaram-se para os dele. Ela se agitou novamente, levantan<strong>do</strong><br />

as mãos; as vozes de Alexandre e Gláucia embalan<strong>do</strong> a paciente para que ela continuasse<br />

a se acalmar. A frequência cardíaca já estava baixan<strong>do</strong>, e os tremores tinham reduzi<strong>do</strong><br />

significativamente, evidencian<strong>do</strong> que a droga já começava a fazer efeito em seu já<br />

combali<strong>do</strong> organismo.<br />

O som de palmas baten<strong>do</strong> na frente da casa chamou a atenção de to<strong>do</strong>s no quintal.<br />

Uma senhora com o cabelo grisalho, encharca<strong>do</strong> pela chuva, estava parada lá, com uma<br />

saia longa e chinelos azuis de de<strong>do</strong>. Cássio levantou o rosto reconhecen<strong>do</strong> a velha, Dona<br />

Tânia. Era uma velha reclusa, que morava três casa para baixo. Parecia viver aban<strong>do</strong>nada<br />

em sua casa, esquecida por tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s, aparecen<strong>do</strong> eventualmente no quintal para regar<br />

suas plantas feias e malcuidadas. A criançada que corria e apertava campainhas da<br />

vizinhança a chamava de Bruxa Velha, Bruxa <strong>do</strong> 71, daí para cima. Ela era <strong>do</strong>ente, mal<br />

conseguia andar, entrevada por conta de alguma <strong>do</strong>ença. Duas vezes ao ano vinha uma<br />

<strong>do</strong>n<strong>do</strong>ca pavoneada, em carro importa<strong>do</strong>, descia com algumas sacolas de papelão,<br />

trazen<strong>do</strong> presentes e roupas de marca para a velha. Dona Tânia dava tu<strong>do</strong> ou<br />

simplesmente jogava fora depois que a visita ia embora. Agora, aquela figura quase<br />

folclórica estava ali, baten<strong>do</strong> palmas em frente à sua casa.<br />

— Cássio — chamou a irmã.<br />

Os olhos <strong>do</strong> sargento desceram de encontro aos de Alessandra, e ele acariciou o rosto<br />

da irmã.<br />

— Ele os levou, Cássio. Eu não consegui detê-lo.<br />

A irmã respirava lentamente agora, enchen<strong>do</strong> o peito e perden<strong>do</strong> o fôlego.<br />

— Ele pegou a Megan e o Felipe, Cássio. Me ajuda, me ajuda.<br />

— Quem? Quem está com eles, Alessandra?<br />

— O Dalton. O Dalton veio e levou a gente. Eu atirei nele, mas ele não morreu. Ele<br />

está igual àqueles infelizes... Ele levou meus filhos, Cássio! — falou ela devagar, mas, no<br />

final de um grito, voltou a chorar e a tremer.<br />

— Calma, querida. Calma. Seu irmão vai te ajudar — tentou apaziguar o enfermeiro.<br />

A velha bateu palmas de novo.<br />

— Para onde ele levou as crianças, Alessandra?<br />

A irmã tentou responder, mas revirou os olhos, fechan<strong>do</strong>-os e deixan<strong>do</strong> a cabeça<br />

desfalecer.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!